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Posted by Ismael Fabrício on 05:30

Capitulo 1
Noite longa

          Mac se aproxima dos pássaros no chão depois de ter se certificado de que todos os outros haviam voado para longe. Chegando bem perto conseguiu contar três deles, fazendo com que um pequeno sorriso lhe saísse no rosto de satisfação.
      -Malditos corvos...já estou cansado dessas pragas que rondam a minha casa.
      -O que foi Tio Mac? Escutei um disparo! – Diz uma jovem moça de pele tão clara quanto o leite abrindo a porta de entrada da casa do velho, seguindo para fora.
      -Nada querida, somente esses malditos corvos. – Diz o velho Mac passando a mão na cabeça alisando o que lhe sobrou de cabelos, antes de franzir a testa e voltar a reclamar.
      -Maldita hora de vir morar nessa cidade com sua avó. Só o que fazem é voar por ai procurando comida e devorando todos os frutos que encontram. Sem falar no monte de merd...
      -Sim Tio Mac eu sei, eu sei! – Interrompe a garota o chamando com o dedo indicador.
       O velho calou-se e seguiu subindo os cinco degraus da varanda apoiado no corrimão da direita, logo deixando sua velha espingarda no canto próximo a porta.
       -Vamos entre. Preparei uma ótima sopa para-nos. – Diz a garota pondo a mão no ombro do velho que adentrava pela sala.
       -Sim vamos, estou faminto e minhas costas doem.


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         A duzentos metros dali, atrás de um balcão, o jovem Ed empilhava varias grades de pão de forma próximo a parede da dispensa da loja.
       -Pronto agora só falta organizar os refrigerantes. –Falava com sigo mesmo quando um barulho de sino soa, depois de abrirem a porta principal da loja.
       -Estou indo, um momento! – Grita ele se apressando em deixar a pequena dispensa.
      Já se aproximando do balcão Ed vê a senhora Olivia e sua filha Ellys segurando um pacote de biscoitos de chocolate.
      -Olá Ed. – Diz a mulher sorrindo.
      -Olá Olivia, e como vai à belíssima Ellys? –Diz ele fazendo cócegas na barriga da garota, que responde sorrindo e tentando afastar a sua mão.
     -Bem!
     -Bem mesmo? - Insisti Ed passando a mão na cabeça da criança, que ainda sorrindo responde.
     -Sim.
     - Não me diga que acabaram os biscoites de morango? – Pergunta Olivia apontando para o pacote nos braços da filha.
     -Acho que não, deixe me ver no estoque.
     Ed novamente passa pelo balcão abrindo a porta da dispensa mais ao fundo, longe dos olhos da garota e da mãe, fazendo a garota imaginar onde ele estaria e o porquê de tanto barulho.
     - Infelizmente acabou! – Grita ele lá de dentro provavelmente arrumando as coisas que bagunçou.
      A mulher aguarda até Ed voltar, abre a bolsa e retira da carteira o dinheiro para o pagamento dos biscoitos, logo depois o entregando ao homem, que rapidamente conta o troco e lhe entrega junto com uma pequena barra de cereais.
    -Não precisa. – Fala a mulher a Ed pegando o troco.
    -Por conta da casa para as belíssimas mulheres de Cidade dos Corvos.
     A mulher sorri e segura à mão da filha a direcionando para a porta de saída do mercado.
    -Obrigada Ed, e até mais.
   -Até mais Olivia, até mais Ellys. – Diz Ed seguindo novamente em direção à dispensa.

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     Olivia sai do mercado com sua filha Ellys, e ambas caminham lentamente ate mais abaixo por entre arvores e arbustos seguindo o caminho para a pista.
    O lago esta mais verde do que nunca, o sol se esconde por entre as nuvens e o vento insiste em bagunçar os cabelos da pequena Ellys, que luta para segurar o grande pacote entre os braços.
    -Mãe ta caindo, ta caindo!
    -Me da aqui, me deixa levar pra você.
    A mulher põe o pacote debaixo do braço e se abaixa arrumando o vestido azul da menina, que agora com os braços livres luta com o vento tentando arrumar o cabelo retirando-os dos olhos.
    -Vamos meu amor temos que ir depressa, ta ventando muito! – Afirma a mãe segurando a menina pelo braço a guiando pela estrada abaixo.
    -Precisa de ajuda senhora Olivia? – Uma voz grossa e forte corta o som do vento chamando a atenção da mãe preocupada com a quantidade de folhas no vestido da filha.
    -Não obrigado já estamos perto, só falta mais alguns metros! – Diz Olivia a um homem alto de cabelos curtos vestindo um macacão de mecânico.
    -Certo. – Exclamou o homem que foi recém-contratado pela única oficina da cidade.
    -Só queria ajudar senhora, parece ter dificuldades com a garota e o vento...
    -Não precisa, agradeço. Como havia dito antes, já estamos perto! – Diz em voz autoritária Olivia ao homem de barba grossa e olhos fundos.
    Sem perceber uma caminhonete azul claro, já com a tinta desbotada encosta do lado de Olivia, um rapaz põe a cabeça pra fora da janela do veiculo e grita fazendo com que mãe e filha se assustem.
    -Trevys venha logo homem, estamos atrasados. Comprou o que pedi?
    -Sim senhor, ta tudo aqui. – Foi o que ele respondeu ao rapaz, que prontamente já abria a porta do carona para o ajudante entrar. Enquanto Olivia se recompunha do susto seguindo seu caminho para casa.          


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      Trevys adentra a caminhonete fechando a porta bruscamente colocando os pacotes entre os pés.
      -Só não tinha as pilhas para a lanterna grande. E agora? –Pergunta ele passando um pano nas mãos sujas de graxa.
      -Pode deixar, compraremos ao passar pelo posto do Cregg!
      A caminhonete percorre a estrada recheada de folhas que segue  em direção à primeira ponte, hoje recém reformada.
      -Demora até chegar nesse lago Monrys? – Pergunta Trevys abrindo um dos sacos retirando uma garrafa de uísque, abrindo a tampa e despejando um bom gole do liquido na boca.
      -Nada, acho que uns 60 quilômetros ou menos.
      -Voltaremos mesmo antes do anoitecer não é? Tenho um encontro esta noite.
      Carlo ri como se o parceiro ao lado estivesse contando uma engraçadíssima piada.
      -Pare com isso homem de deus, quem sairia com você? Acho que nem mesmo minha falecida avó!
      Trevys faz cara feia ao companheiro, mas logo desisti de uma possível briga, e encosta-se ao acento olhando para as arvores que passam rapidamente do lado de fora da caminhonete Ford f-100, enquanto ainda escuta as risadas do parceiro ao volante.
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          A caminhonete dava solavancos ao passar pela estrada esburacada do sitio onde Carlo havia entrado. De fato, não sabia nem de quem era, mas de uma coisa tinha certeza. Era naquela direção que o rio onde os maiores peixes estavam.
         Já no banco do carona Trevys quase que deitado, dormia segurando a garrafa com o que havia sobrado da bebida. Até um soco no ombro o acordar.
      -Ai, acorda cinderela. Já estamos chegando! –Carlo diz ao parceiro de pesca abrindo o velho porta luvas, retirando um maço de cigarros e levando um deles a boca.
       -Cara quanto tempo eu dormir? –Trevys pergunta passando as costas das mãos nos olhos.
       -A viagem quase toda! – Afirmar Carlo freando a caminhonete e logo abrindo a porta para sair.
      -Nossa que calor maldito! Onde ficaremos têm sombra?
      -Você só sabe reclamar Trevys?
       -Não cara, também sei beber e mexer em motores. –Afirma Trevys, logo depois soltando uma forte gargalhada.
       -Ande, para de falar besteiras e me ajude com as coisas.
       -Certo chefinho, certo.
        Rapidamente retiraram três mochilas e as varas de pesca do carro. O ajudante seguia seu superior em direção a beirado do rio onde já avistava a sombra de um alto carvalho. Isolado próximo à água, parecia que suas grossas raízes buscavam alimento como se a árvore fosse um predador, escondido buscando a oportunidade certa para tomar sua presa com os fortes braços.
       -Vamos ficar aqui, teremos sombra e manteremos a comida livre do calor!
       -É um ótimo lugar chefe, vou preparar as iscas.
      -Tome cuidado com as cobras, dizem que as pestes se escondem nas beiradas.
       -Certo, sei disso, e uma coisa eu lhe digo...
       -O que?
       -Acho melhor elas tomarem cuidado! –Diz Trevys soltando um rápido sorriso checando os bolsos da mochila que trouxe.

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          Ellys rabiscava alguma coisa em um bloco de papel sentada no chão da cozinha, enquanto a mãe preparava o almoço picando alguns legumes na tabua de corte.
        -O que esta fazendo a minha princesinha? –Pergunta Olivia a filha com um belo sorriso ao rosto.
        -Só um desenho mamãe.
        -E o que esta desenhando meu bem?
        -Nada, ainda vou ver o que é...
         -É mesmo, ainda vai ver, esta parecendo que minha filhinha vai ser uma ótima artista futuramente. –Diz Olivia segurando o rosto da filha enquanto a beija na testa no exato momento em que o telefone toca.
         A mulher esfrega as mãos no avental e deixa a menina, seguindo em direção à mesinha onde esta o telefone que berra em um toque irritante.
       -Alô. Sim Ed pode trazer, estava mesmo precisando da água agora.
       -Mãe! –Grita a garota da cozinha, que se levanta encostando-se à parede.
        Olivia solta o telefone no chão e corre em direção a pequena Ellys a abraçando forte.
       -O que foi querida? O que houve?
       -Vi um homem feio pela janela. –Apontando a direção à menina mostra a mãe onde o homem estaria.
        A mulher olha em direção e vê por trás de uma arvore caída a alguns metros da porta dos fundos, uma movimentação.
       -Rápido filha, vá para o seu quarto e se esconda no armário, mamãe vai ligar para o tio Galergan pra vir ver quem é ta bom?
        A garotinha sobe os degraus em espiral da casa seguindo o corredor em direção ao seu quarto, mas logo é interrompida. Uma mão forte a puxa bruscamente para dentro do quarto recheado de brinquedos e desenhos presos a parede. Com uma mão em sua boca e a outra em volta da sua pequena cintura, Ellys não consegue sequer se mexer direito, seus braços ficaram por baixo do braço forte do homem barbudo e de toca negra que a segura.
       -Quietinha menina, se fizer silêncio você e sua querida mãezinha ficarão bem, entendeu?
       Olivia procura o telefone no chão, e o encontra próximo ao sofá, se curva e rapidamente digitando as teclas o leva ao ouvido, mas logo percebe que não esta sozinha na sala devido a um vulto que ela vê no vidro do porta retratos na mesinha, tenta se virar mais o homem vestido de calça jeans e jaqueta de couro é mais rápido a agarrando ferozmente pelo pescoço a lançando no chão.
       -Não...pelo amor de deus não...-Diz ela tentando livrar a garganta do desconhecido.
       -Calada dona, ou meu amigo lá em cima vai machucar a sua garotinha. 

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        A espingarda não saia do colo do velho, que se balançava vez ou outra. Talvez uma forma de não cochilar. Olhava na maioria das vezes para apenas dois lugares. Ou olhava para o Lago Esmeralda que passava rente a sua velha casa ou para o mercado de Ed a alguns bons metros de distancia. Sua visão era boa apesar da idade, conseguia visualizar até mais longe um pouco da segunda ponte, um feito para sua sobrinha Elizabeth, que não conseguia enxergar nem mesmo quem entrava no mercado Cliff.com.
       Mas as horas foram passando, e o velho Mac já havia lutado demais contra o sono, até a cadeira parar de balançar definitivamente e ele cair no sono acompanhado por sonhos.
       Elizabeth abre a porta segurando um cobertor de remendos, olha para o avô e começa a embrulha-lo. Depois se senta no degrau da escada da entrada principal e pega uma folha soprada pelo vendo que havia ficado presa em sua perna.
      -Não aguento mais esse lugar! -Diz ela, novamente lançando a folha ao vento.

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      Trevys já estava inquieto, as horas passaram rápido, e o fim da tarde já estava se anunciando no horizonte. Era necessário apressar Carlo ou dar adeus ao seu encontro com a moça mais a noite.
     -Chefe lembra-se do que eu disse...
     -Sim, sim me lembro, já estava mesmo a fim de ir. Esses malditos peixes devem servir.
     -Pegamos muitos chefe, veja, pescamos uns 34 eu acho...
     -É, umas 34 minúsculas piabinhas isso sim.
      -Calma ai chefinho, são 34 piabinhas bem pescadas, nos deram um baita trabalho as primeiras.
      -Somos pescadores de merda isso sim.
      -É, não somos tão bons assim, mas com o passar do tempo, pegaremos o jeito.
       -Pode ser Trevys, pode ser. Agora vamos logo, traga a tralha enquanto levo os peixes e ligo a caminhonete.
       -Certo, estou indo. Em falar nisso amanhã teremos que abrir a oficina senhor?
       -Claro que sim, é nos domingos que se tem mais trabalho. Onde alguns caçadores e pescadores de verdade nos visitam para checar os carros e os motores dos barcos.
       -Certo, faz sentido.
       -É claro que faz, agora ande logo com isso, temos algum tempo na estrada e teremos que passar no Cregg de novo, preciso usar o banheiro sujo dele.
       Trevys coloca as mochilas e as varas atrás da caminhonete e apressa-se para entrar, Carlo da à partida e acelera fazendo a volta para a estrada que havia passado anteriormente, seguindo o caminho de volta para a velha Colina dos Corvos.

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         A noite havia caído, as estrelas brilhavam ao alto, a lua tinha se escondido como se algo a deixasse com medo, e bem perto dali a velha cabana se encontrava.
        A cabana hoje quase toda envolvida por galhos, deveria estar silenciosa e sem nenhum tipo de iluminação. Mas a pequena fonte de luz, o que parece ser de uma vela, tremula para quase todos os lados, deixando claro o bastante para que qualquer um visse a centenas de metros dali.
       E foi justamente o que aconteceu. O homem de chapéu e de colete de um tom cinza indica a outro homem mais magro ao seu lado para seguir pela outra direção. Com a mão rente a cintura o homem coberto pela sombra da noite se aproxima da janela suja e de vidros embaçados da cabana. Uma rápida olhadela o mostra o foco da luz e dois pares de pernas saindo de um cobertor ao chão. O outro homem acena com um rápido piscar de lanterna avisando o obvio ao seu parceiro, de que havia pessoas lá dentro. Se aproximando agora da porta principal o homem segura a maçaneta com cuidado e lentamente a trazendo para si, inicia uma demorada abertura para que a mesma não faça se quer um rangido, apesar dos gemidos abafarem qualquer barulho que se fizesse, os homens não queriam que fossem vistos até se aproximarem por completo dos que lá dentro estavam.
        Os gemidos eram mais intensos a cada passo do homem que adentrava na sala onde estavam o que seria um casal de jovens apaixonados trocando o mais intenso carinho. O outro homem aparece pelo outro lado do cômodo dessa vez com uma arma em mãos. O homem de chapéu já preparado puxa a arma presa ao coldre e aponta em direção ao jovem de cabelos castanhos que nem percebe a movimentação.
        -Mas o que diabos fazem aqui criaturas de merda? –Grita o homem, que faz com que o rapaz leve um baita susto e role na outra direção já tentando se levantar para pular a janela. Mas a mesma esta bloqueada pelo segundo homem que aponta a arma para a testa do garoto nu em sua frente, tão nervoso que chega a tremer as pernas pelo medo. Já a garota só teve reação em se cobrir com o cobertor e ajeitar o cabelo atrás da orelha.
       -O que pensam que estão fazendo? Não percebem que esse lugar é perigoso Sauls? –Pergunta o homem abaixando a arma ao rapaz que agora busca as roupas próximo a uma poltrona.
      -Perdoe nos xerife Galergan, parecia apropriado...
       -Quero ver se o padre achará apropriado saber que sua filha esta transando a essa hora da noite em uma cabana abandonada com o rapaz que o ajuda com o coral dos jovens da igreja? – Afirma o xerife retornando com a arma no coldre.
       -Rápido coloquem suas roupas e saiam daqui. E levem essas coisas. –Aponta Galergan ao travesseiro e as cobertas trazidas pelos jovens. –E você mocinha iremos conversar sobre isso com seu pai, espero já saber das consequências? –Sim xerife. –Responde ela com olhar de medo.
       -Esses jovens xerife cada dia mais burros. -Diz o homem guardando a arma.
       -Vamos Walkker, temos que voltar a patrulhar. -Afirma o xerife se curvando e apagando a vela com um soprar.

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        A chuva desaba fortemente do céu escuro, já tomado pela noite. A lua não da nenhum sinal de que pretende sair de onde for que esteja. A estrada molhada se parece com um espelho devido ao contato com a luz dos postes que ficam para trás a cada quilometro percorrido pela caminhonete azul desbotado.
       Trevys com o braço encostado na porta colado ao vidro, olha para fora tentando enxergar a beirada da pista, enquanto Carlo acende o seu terceiro cigarro desde quando saíram do posto do Cregg.
      -Carlo, essa chuva ta ficando cada vez mais forte brother. –Afirma Trevys passando a palma da mão no vidro embaçado.
         -Ta mesmo, e o pior é a merda do rio que deve ta enchendo.
       -É mesmo, meu irmão me disse que às vezes ele enche e pra passar de carro fica complicado.
       -Pois é. E pra variar deve ter acabado energia na cidade. Toda vez que chove forte é a mesma coisa. Não to vendo as luzes daqui. -Carlo quase se levanta do banco tentando ver mais ao horizonte alguma fonte de luz, mas confirmou sua teoria. Era provável que Cidade dos Corvos estivesse às escuras.

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       O velho Mac abre os olhos e logo vê a sua frente à sobrinha Elizabeth sentada, tentando ler algum livro com o auxilio da luz de uma vela. E com facilidade deduziu que havia acabado a energia, ainda mais com o barulho da chuva caindo como concreto na madeira da velha casa onde passou metade da vida.
       -O que lê mocinha? –Pergunta ele se levantando lentamente.
     -Um livro sobre um homem que controla o tempo. –Afirma ela passando a pagina e direcionando o livro ao foco de luz vindo da pequena e fina vela.
      -Bom o fato de não haver energia não me surpreende. E além do mais não temos nada eletrônico nessa casa mesmo. -Resmunga o velho a sobrinha que nem parece prestar atenção no que o avô diz.
      -Verdade. –Responde ela, sem tirar os olhos da pagina.
       -Bem vou ver o que temos para comer. Se não achar nada terei que ir visitar o Ed em seu estabelecimento para comprar algumas coisas.
       -Verdade. –Responde ela novamente passando mais outra pagina.
       Mac caminha ate a porta, dá uma rápida olhada para além do vidro e percebe que o Lago Esmeralda perde a cada momento a sua pureza devido ao barro que a chuva arrasta do bosque logo acima.
       -Malditos corvos, malditos vizinhos e maldita chuva. –Resmunga ele com sigo mesmo enquanto da às costas a porta e segue em direção à cozinha.

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       Do lado de fora o homem bem equipada com colete de pesca e chapéu avista a imagem de um homem olhando para fora. A ação de se esconder por de trás de uma arvore foi tão rápida que possivelmente os olhos do homem dentro da casa não conseguiram acompanhar.
        O homem sai de onde havia se escondido, mas agora segurando um rifle de caça que estava levando preso as costas, e segue em direção a porta principal subindo cuidadosamente os degraus da pequena varanda. A porta aparentemente destrancada foi aberta com um simples giro de maçaneta e um suave puxar. Logo o homem já se encontrava na sala próximo a uma estante com alguns livros velhos e porta retratos.
       A garota sentada na poltrona nem percebeu que ele estava ali, parado e apontando o rifle em sua direção, enquanto se aproximava cada vez mais.
        Mas o som do ranger de uma velha madeira no chão o entrega, fazendo a garota se virar e vê o estranho que acabará de invadir sua atual casa.
        -Quieta ou morre. –Anuncia ele levando o dedo indicador a boca num gesto de silêncio.
         Elizabeth não reage e permanece imóvel segurando o livro na direção da luz.
        -Onde esta o homem que eu vi pelo lado de fora. Pra onde ele foi? –Pergunta ele aparentemente nervoso.
       -Na cozinha. Mas não o machuque, leve tudo que quiser...
       -Cala a boca vadia e fica sentada ai! –Diz o homem apontando a arma para a moça seguindo de costas para a porta que dava provavelmente a cozinha.
       Alguns passos pra dentro da escuridão e o homem só conseguia ver panelas e partes do armário, mas nenhuma movimentação de nenhum homem no aposento, até sentir o metal gelado da velha espingarda de Mac em seu queixo.
       -Se você ao menos pensar em se mexer, estouro seus miolos, seu ladrão de merda!

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       As amarras já estavam esfolando os punhos de Olivia, e o pano que puseram em sua boca já estava a sufocando. Tinha que respirar calmamente pele nariz e manter-se de lado dentro da banheira escorregadia. Vez ou outra se ajeitava com ajuda dos pés descalços, que há horas estavam amarrados com o fio de telefone. Mas isso não a incomodava, o que mais perturbava a mente dela era o fato de como estaria a sua adorável Ellys. -Será que estava no mesmo estado que a mãe?- Olivia se perguntava.
      -Onde será que os outros estão? –Pergunta um homem em pé a outro sentado na cama onde Olivia dormia.
      -Sei lá, ainda mais com essa chuva, devem estar nas outras casas, ou tentando conseguir um carro...
      -Devem se apressar, e devem tomar cuidado com aquele xerife porcaria, não encontramos nem ele, nem o almofadinha dele em lugar nenhum.
      -Acho que estão pelo bosque ou algum outro lugar mais distante.
      -É talvez estejam, ou já sabem que estamos aqui e foram pedir reforços...
      -Cala a boca, chegamos sem sermos vistos. E além do mais se foram pedir ajuda, temos mais de 4 horas pra sair daqui, leva tempo até a próxima cidade. –Afirma o homem sentado na cama, segurando um revolver com a mão esquerda.
      Olivia se mexe novamente tentando se acomodar para não forçar as mãos agora muito doloridas. Para por um momento para escutar se algum dos homens que a amarraram estava por perto, mas só escutou o estampido que soa forte, mais forte que o próprio barulho da chuva desabando sem parar do céu castigador. Arregala os olhos de espanto tentando buscar no meio da escuridão ver alguma coisa, mas não era possível, só estava mais aliviada por que o barulho veio de fora da casa, a alguns metros dali. Mais logo entra em pânico em se dar conta de que não sabia onde Ellys estava, e as lagrimas e o choro abafado da mulher começaram em um reprimido soluçar.

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        Ed acabará de vestir a capa de chuva. Abriu com a mãe desocupada a porta e puxando o carrinho com a água com a outra a deixou bater sozinha enquanto deixava o mercado seguindo direção ao caminho para a casa da Olivia mais a diante próximo à casa dos Ryans.
        A chuva era tão pesada que o carrinho quase não se mexia e as rodinhas mal giravam devido a lama. Alguns metros depois, Ed para o carrinho e desamarra a corda elástica que prendia o garrafão a base de metal do carrinho de cargas. Com um forte solavanco lança o garrafão ao ombro e segue em direção as escadas da casa da senhora Olivia. Bate na porta e logo estranha a voz do homem do lado de dentro.
       -Abra a porta e veja quem é. –Diz um homem pelo outro lado, como se estivesse falando com outra pessoa. –Será que Olivia teria convidados? –Se perguntou Ed.
       -A porta se abre e Ed vê um homem alto e forte de touca negra e de uma barba tão grossa que mais lhe parecia um motoqueiro daqueles filmes de harley Davidson.
      -Com licença senhor, a senhora Suenz esta? –Pergunta Ed encarando o homem que deveria pesar uns 100 quilos.
      -Entre rapaz saia da chuva. –Diz o homem a Ed aparentemente escondendo algo nas costas.
     -Não obrigado, estou ensopado, irá estragar o piso, só preciso falar com a senhora Suenz e irei embora. Onde ela esta? –Pergunta Ed ao homem colocando a cabeça pra dentro da casa vendo outro homem encostado na escada segurando um revolver prateado.
       -Viu demais amigo, agora deverá entrar. –Diz o homem barbudo apontando uma pistola em direção ao rapaz, que rapidamente arremessa o garrafão de água em cima do homem já correndo pela lateral da casa pelo lado de fora.
       -Vá atrás dele seu idiota! –Grita o homem próximo a escada que corre em direção a porta dos fundos da casa.
       -Certo. –Afirma o outro de barba longa ao seu parceiro se esquivando do garrafão ao chão, seguindo em direção aonde o entregador havia corrido.

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       Ed corria o mais rápido possível em direção à segunda ponte do Lago Esmeralda, sabia que se o seguissem seria o único lugar em que teria chances de se esconder e escapar para pedir ajuda depois. E pra piorar o que havia acabado de pensar se tornava realidade. O homem estava correndo atrás dele com a arma em mãos. Ed corria em zigue e zagues temendo que o homem atirasse, sem querer tropeçando em uma pedra o fazendo se desequilibrar e cair colina abaixo no exato momento em que o perseguidor apertou o gatilho acertando Ed, que rolava barranco abaixo da colina coberto por uma lama escura e folhas, até dar de encontro à água do Lago Esmeralda que já ultrapassava o seu volume, devido a forte chuva.
       -O pegou? –Pergunta o outro homem chegando alguns segundos depois ao barbudo que atirou.
       -Sim, pelo que vi foi bem no peito. –A merda é que o xerife pode ter escutado o disparo.
       -É acho que sim, deveremos ficar de tocaia próximo a delegacia.
       -É, vamos avisar aos dois lá em cima que iremos dar boas vindas ao xerife e ao seu cãozinho.
        -Certo, vamos logo, nenhuma movimentação dentro d’água. Esse ai já era, bom tiro.
       -Valeu.

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        -Escutou isso? –Diz Carlo ao parceiro no carona.
        -Não, o que foi? –Responde Travys ainda tentando ver o que havia do lado de fora da caminhonete.
        -Parecia um tiro.
        -Um tiro, por quê? –Pergunta Travys abotoando a camisa com frio.
         -Era um tiro, eu escutei um tiro, será que foi o velho da cabana lá de cima?
         -Ta falando aquele que tem uma sobrinha gostosinha?
         -É. Ele às vezes fica meio doido e atira pra tudo que se mexe. –Afirma Carlo passando a mão no vidro tentando melhorar a visão para enxergar a pista mais a frente.
         -Sei lá, também pode ter sido o xerife...
          No exato momento em que Travys falava, Carlo vira o volante da caminhonete bruscamente para a direita, que a faz se chocar em um tronco caído ao lado da pista.
         -O que foi isso Carlo?
          -Quase atropelei alguém. –Diz o rapaz abrindo a porta do veiculo, e seguindo em direção ao meio da estrada.
         -Mas que merda, lá se vai o meu encontro. –Reclama Travys descendo do carro olhando para céu debaixo da intensa chuva.
        -É o Ed do mercado Travys, parece ferido.
         -Mas o que houve amigo, o que aconteceu? –Pergunta o ajudante da oficina ao mercador.
         -Homens armados na cidade, estão na casa de Olivia, acho que estão em perigo, precisamos ajuda-las, temos que avisar ao xerife galergan...
         -Mais que merda! – Pragueja Travys olhando para Carlo com olhar de espanto.
                                *********************
       A chuva cai mais pesada a cada minuto que passa. O lago esmeralda já esta prestes a engolir o piso de madeira da primeira ponte e uma parte da estrada que leva até próximo ao mercado. Carlo caminha com dificuldade tentando enxergar mais a frente, enquanto Travys vinha mais atrás ajudando Ed a se apoiar.
        Ed se apoia no ombro do mecânico que vez ou outra olha para trás, enquanto seguem a trilha para a velha cabana que pertencia ao professor e pesquisador Evan Lampsk.
      -Vamos logo, temos que avisar ao xerife sobre o que esta acontecendo. –Anuncia Carlo.
        -Calma cara, o homem levou um tiro.
       -Eu sei Travys, mas se demorarmos muito pode acontecer alguma coisa com   Olivia e a Ellys.
       Ed só conseguia dar passos desajeitados, estava fraco demais para se atrever afalar alguma coisa, ainda mais com a chuva que teimava em bater fortemente na perna onde havia levado o tiro.

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         Tio Mac apontava a arma ao possível ladrão. O cano da velha espingarda estava encostada na mandíbula do homem de cabelos castanhos que se encontrava imóvel a sua frente, até o momento em que Elizabeth se aproxima com a vela acesa em direção dos dois dizendo: -Tio esta bem? –Fazendo com que a luz atrapalhe a visão do velho, que é socado bem no meio da cara, tão repentinamente o fazendo cair de costas no chão.
        -Maldito, queria me parar com essa espingarda velha que talvez nem atire mais? Vamos levante-se vovô, e limpe seu nariz, esta sangrando, não quero que morra, apesar de ter motivos suficientes para mata-lo. -Diz o homem irritado a Mac, que ainda no chão leva a mão ao nariz sentindo o sangue lhe escorrer das narinas.
        -E você moçinha sente-se nessa cadeira enquanto penso no que vou fazer com vocês dois.

********************
         O jeep para próximo a um barranco ao lado da cerca que separa o Bosque da Libélula com a estrada que segue para os campos. Galergan desce do veiculo ascendendo o cigarro preso entre os lábios já algum tempo.
       -Podemos encontrar alguns troncos ali. Pode ser uma ajuda pra terceira ponte aguentar pelo menos essa noite. –Afirma ele apontando com o dedo indicador a uns metros além da cerca.
       -Pode ser. –Responde seu substituto.
        Galergan da um bom trago e soltando a fumaça no ar se encosta no jeep, traga novamente e pergunta olhando sempre além da cerca.
         -Preciso te perguntar uma coisa?
         -Diga chefe...
       -Você sabe que já trabalho com isso minha vida toda não é? –Diz ele fitando seu substituto nos olhos.
       -Claro que sei, ama o que faz, nunca vi nenhuma falha nesses meses que estou do seu lado...
       -Pois é. –Interrompe ele. –E acho que ficarei por mais um tempo!
       -Mas senhor, não disse ao Gordon que sairia esse ano, e que iria apenas me passar algumas coisas antes de deixar o cargo? –Pergunta o rapaz ao seu lado, com um certo ar de indignação.
       -Sim eu disse, mas as coisas estão me saindo diferente por aqui. Sinto que meu dia de aposentado ainda não esta perto de acontecer...
       -Pra merda a sua aposentadoria. Passei meses o vendo andar para os lados, passando instruções que sinceramente nunca irei utilizar nessa cidade esquecida por todos. Só vejo papeis na minha frente o dia todo, e o que preciso fazer é só ler as merdas das reclamações e carimbar com o brasão da guarda e pronto. Nunca haverá problemas sérios aqui xerife, não a nada a fazer nessa cidade a não ser gastar gasolina fazendo rondas desnecessárias por essas estradas também esquecidas.
       -Filho... –Interrompe o xerife.
       -Filho uma ova, não sou seu filho e mais uma coisa, trate de tirar o seu rabo da porra da cadeira que é minha por direito, não deixarei que um xerifizinho de merda que não faz absolutamente nada me deixe apodrecendo ao seu lado por mais um ou dois anos. Tomarei seu lugar nos próximos dois meses Galergan, você querendo ou não! –O rapaz ajeita o chapéu e segue em direção à porta do jeep da policia.
       Galergan da uma olhada para dentro do veiculo admirado pela conduta do rapaz, e com mais uma tragada, termina o cigarro que já havia queimado praticamente sozinho. Logo depois abrindo a pequena porta e sentando-se no banco do condutor, olha friamente para o rapaz no banco do carona e diz: -Se é assim rapaz, tudo bem, veremos quem é o xerife desse lugar em dois meses.

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       Olivia dormia amarrada dentro da banheira, quando foi acordado por um solavanco e arremessada no chão frio do banheiro.
       -Bem dona agora chegou a hora, os outros já devem estar vindo, e acredite em mim, eles são piores do que nós. Então resolvi mata lá. Acho que será melhor uma morte rápido comigo do que ser estuprada e morta pelo restante dos meus amigos. O que acha dona? –Pergunta o homem em voz baixa a mulher totalmente indefesa caída de lado no chão, que balança a cabeça negativamente tentando falar.
       -O que foi dona, quer dizer alguma coisa? –Diz o homem puxando o trapo da boca da mulher que chora pedindo misericórdia.
       -Por favor senhor não faça isso, minha filha precisa de mim...
       -Precisa não dona, sua filha já ta há muito tempo no fundo do lago, não deu pra impedir, às vezes meus amigos são determinados sabe? –Responde ele sorrindo para a mulher que chora de forma que nenhum som saia de sua boca.
       -Vamos desça homem, o pessoal chegou. –Alerta o outro homem passando as mãos no rosto ao passar pelo portal da porta.
       Colocando rapidamente o pano na boca da mulher, o homem de aparência bruta, se levanta e caminha para a saída, batendo a porta ao sair do banheiro.
       Olivia escuta o som da porta sendo trancada a chave e dos passos dos homens se distanciando.
       Agora a mulher já parecia entregue a morte depois do que o homem havia lhe dito. Então o disparo há algumas horas atrás seguiu direção ao frágil corpo da filha. Para Olivia, ela já estava morta, só precisaria da ajuda de alguém para arrancar sua alma daquele corpo, para que pudesse ajudar Ellys onde é que a filha estivesse.

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        -Deite no chão mocinha! E você velhote fique de costas pra parede, e se tentar alguma coisa, explodo a cabeça da jovenzinha aqui. –Diz o homem autoritário.
        -Certo senhor, só não a machuque...
        -Cala a boca velhote, não pedi pra você falar. Agora fica de joelhos e encosta a porra dessa sua cabeça na parede.
        Mac faz o que o homem havia mandado. Se ajoelha e encosta a cabeça na parede.
        -Agora sim, teremos diversão nessa casa moçinha.
        Com a coronha do rifle, o homem acerta a cabeça do velho, que rapidamente escorrega e cai do lado do armário inconsciente.
        -Não...por que fez isso seu idiota, ele fez tudo que você pediu... –Diz Elizabeth começando a chorar.
         -Cala a boca garota estúpida, o velho teve o que merece, quase me matou com essa espingarda enferrujada. –Diz ele pisando com o pé esquerdo nas costas da garota.
        -Agora que seu velhote dormiu, podemos brincar um pouco só nós dois antes que vocês dois morram. –Diz ele se abaixando e segurando com força o cabelo da jovem.

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         A porta da velha cabana estava aberta, do lado de dentro um lampião velho estava aceso e revelava Carlo em pé próximo à escada que levava a um sótão, Trevys estava amarrando um pedaço de pano em volta do ferimento de Ed que se encontrava deitado sobre uma velha mesa de madeira sem cadeiras.
       -Trevys vou buscar ajuda com o xerife, você vai na casa do senhor Elliot pra traze-lo ate aqui, para que possa cuidar da perna do Ed, temos que ser rápidos certo?
           -Claro só vou apertar mais isso aqui...pode ir vou num instante.
        -Certo, boa sorte amigo. –Diz Carlo que sai correndo em direção a central onde ficam o xerife e seu novo substituto.
        -Aguenta ai amigo, vou buscar ajuda pra você beleza? Não se mexa muito, pode piorar. Vou lá. –E Trevys deixa Eduard para trás em busca do senhor Elliot, o único medico do local.

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        Carlo corria o mais rápido possível, subindo os barrancos que cortavam a estrada que levava na direção certa. As folhas o denunciavam com o barulho, mas naquele momento não tinha muita escolha, deveria chegar o mais rápido possível e avisar ao xerife do que estava acontecendo, antes que o pior ocorresse com Olivia e sua filhinha.
         A lua não havia se mostrado no céu nenhuma vez, a escuridão atrapalhava o caminho do mecânico que subia desesperadamente cada barranco à frente, uma luz forte azul se chocou com os troncos das arvores mais a frente, logo depois de uma outra luz vermelha.
         -É o xerife, esta passando agora lá em cima, tenho que ser rápido antes que saia novamente. –Diz Carlo com sigo mesmo, enquanto crava seus dedos no barro escuro para o ajudar a subir mais outro íngreme barranco de terra fofa.
         Alguns minutos depois Carlo se mantinha de pé ainda buscando o fôlego, mais é surpreendido quando avista três homens estranhos apontando rifles ao xerife e seu ajudante.
           -Merda. –Sussurra Carlo se abaixando por de trás de uma arvore. –E agora o que vou fazer? Pensa Carlo, pensa.
        O rapaz rapidamente volta descendo o barranco por onde veio só que seguindo outra direção mais a frente.
            -É isso, a espingarda do velho Mac.

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        O xerife não havia nem descido direito do jeep quando foi abordado por um homem com um rifle na mão apontando para a sua cabeça, nem percebendo que seu substituto já havia descido do veiculo e estava com o rosto encostado no capô, enquanto outro homem o desarmava.
          -Vamos logo com isso, sigam pra dentro da delegacia, tenho algo a dizer.
     -O que estão fazendo seus loucos, podem ficar o resto da vida de vocês trancados em uma sela por isso...
        -Cala a boca xerife, e entra logo.
       Galergan e seu substituto adentram a delegacia sem luz, os homens entram logo atrás, enquanto do lado de fora o jeep permanece com os faróis acesos apontando em direção à segunda ponte da Cidade dos Corvos.

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        O homem havia tirado a parti de cima da roupa de Elizabeth, que ainda permanecia deitada no chão de costas pra ele, com os seios nus de encontro ao piso. Agora com as mãos amarradas chorava tentando lançar a sua mente para o mais distante dali, enquanto via seu avô caído com a testa sangrando próxima a ela.
        A calça também fora retirada e o homem que para Elizabeth era o mais imundo e covarde de todos preparava-se para colocar seu membro para fora da calça jeans e leva-lo em direção ao seu corpo. A garota ao ouvir o som do zíper se abrindo, fecha os olhos enquanto aperta o lábio inferior com os dentes.O homem prepara-se para invadir a força o sexo da garota, mas é interrompido por um forte chute no queixo que o faz cair para trás apagado, sangrando os dentes.
        -Esta tudo bem moça? –Pergunta Carlo a Elizabeth, que solta os lábios e chora como uma criança, enquanto o rapaz solta as amarras dos seus pulsos doloridos.

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         Trevys havia corrido pelo caminho que ele achava mais perto, mas logo foi impedido de continuar devido o alagamento do lugar. Tendo que retornar quase ao ponto inicial da cabana para seguir pela única estrada que levava ao centro da cidade.
         Minutos depois se deparou com quatro pickups de cor grafite paradas em frente à praça central da cidade. Trevys se encosta em uma delas e olha para dentro, tentando ver alguma coisa, já sabendo que as pessoas que vieram nela já haviam as deixado lá por algumas horas. Tenta forçar a porta do carona, mas logo se vê escorregando pela lateral do carro com a cabeça sangrando indo em direção ao solo lamento do local.
       -Maldito encherido, por que não tomou conta da sua vida miserável. –Diz um homem com roupas caras de caça, segurando na mão esquerda um pedaço de madeira e preso às costas um rifle de longo alcance para caça.
       -Vamos amigos aqui tem outro, levem-no daqui e ponham-no com os outros. Quero queimar todos eles ainda essa noite.
       -Certo chefe. –Diz outro homem vestido quase da mesma forma só que com o rosto pintado de preto, como se quisesse se camuflar.

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       -Se senti melhor? –Pergunta Carlo a garota que acaba de descer as escadas da casa do avô arrumando a gola da blusa nova que pôs.
       -Sim, e o meu avô, como ele esta?
       -Parece bem, só um cortezinho na testa...
       -O que diabos esta acontecendo? Por que esta aqui? –Pergunta ela seguindo em direção a cozinha, abrindo a geladeira e se servindo com água.
       -Vim pra pegar emprestada a arma de seu avô, esta acontecendo algo de muito ruim na cidade, vi homens, renderam o xerife galergan e seu substituto, sem falar que quase mataram o dono do mercado...
     -Serio, e agora o que faremos? Meu avô me disse que só existem os dois representando a lei por essas bandas...
      -Sei disso, mas sinceramente agora não sei mais o que fazer. Pelo que vi, são muitos homens na Cidade dos Corvos, estão armados com rifles de caça e revolveres.          Além do mais estão pegando moradores como refém.
       Elizabeth se senta no chão se encostando próximo a pia, tomando um bom gole de água, enquanto Carlo acaba de amarrar os pulsos e as pernas do homem que quase havia estuprado a moça se não tivesse chego na hora certa.
       -Tenho uma ideia. Meu amigo foi chamar o doutor Elliot para verificar a perna do Ed, sabe o cara do mercado? Vamos deixar esse homem trancado aqui e vamos pra cabana onde eu o deixei, juntos poderemos decidir o que fazer.
     -É parece uma boa ideia, além do mais não quero ficar aqui. –Afirma a garota subindo as escadas da casa. -Só vou lá em cima pegar algumas coisas e os remédios do meu avô.
       -Certo, só se aprece, aqui não parece seguro.

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        Ed estava imóvel em cima da mesa, quando algo do lado de fora faz barulho, como se alguém tivesse pisado em um graveto e folhas secas. Ele se senta e leva a mão ao ferimento, a calça esta ensopada se sangue e sua visão já parece não ser mais a mesma, talvez esteja fraco demais e precisando de um medico urgentemente.
        A porta da cabana se abre lentamente e os passos agora soam mais claramente, eram passos de alguém usando botas, o solado deveria ser resistente, e os passos eram pesados, Ed sabia que seus amigos não estavam de botas e que nenhum dos dois pesava mais que oitenta quilos.
       O homem adentrou na sala da velha cabana, apontando a arma para dentro do cômodo, só conseguiu visualizar uma pequena poça de sangue próxima a uma mesa e gotas que levavam a outro cômodo. Lentamente foi se dirigindo para onde davam o rastro de sangue, a luz da lamparina já o abandonara, agora estava a sua própria sorte, contava apenas com sua habilidade de caçador, localizar o animal ferido e terminar com a agonizante dor que devia estar sentindo.
       Um barulho soa próximo a um monte de madeira encostada próximo a janela do lado de fora, o caçador passa lentamente pelo portal sem porta seguindo em direção a janela, para verificar o que havia feito o barulho, mas é surpreendido e pego pelas costas por um inimigo que estava invisivel, e agora lutava para tirar os braços do oponente que estavam em volta de seu pescoço tentando o sufocar. Alguns segundos depois o corpo do caçador desiste de lutar fazendo com que o peso os lance no chão. Ed agora respira profundamente, enquanto se arrasta para trás até dar de encontro à parede de made
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              Trevys abre os olhos, e se vê trancado em um espécie de contêiner. Muito escuro pra ter certeza, mas o tamanho e tocando as paredes de metal o fazia lembrar algo semelhante. Já havia visto contêiners demais quando criança na companhia do pai. Agora estava dentro de um. Preso igual às cargas que via saindo e chegando dos enormes navios de cargas, vindos de todos os cantos do mundo.
               -Que merda. Onde será que eu to? –Pergunta-se ele tentando ver por entre uma fresta próximo ao chão.

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              Carlo, Elizabeth e Mac, desciam os barrancos escorregadios da colina, por causa da chuva que insistia em castigar o solo da cidade. Até avistarem a velha cabana, iluminada por causa da lamparina velha que encontraram atrás da escada.
               -Ali,-Carlo aponta com o dedo. –Ed esta dentro da cabana. Deixamos ele em cima da mesa, levou um tiro na perna. Talvez Trevys já tenha chego com o médico.
             -Ele esta muito ferido? –Pergunta Elizabeth.
             -Não sei ao certo, espero que não.
             Adentrando na cabana, Carlo estranha por não ver ninguém.
             -Ué, onde diabos foram todos?
          -Aqui atrás. –Responde Ed em voz alta encostado na velha parede de madeira.

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             Galergan olhava para o oficial ao seu lado, que chorava temendo por sua vida.
              -Mas que merda de substituto arrumou hein xerife. Ta quase se borrando por causa de um riflezinho. –E as gargalhadas soaram alto dentro da central. Os homens se divertiam com a situação.
              -Qual é o seu nome rapaz? –Pergunta o homem de casaco marrom enquanto aponta uma pistola para Galergan.
             -ko...kolerman... –Diz o rapaz de joelhos no canto da parede, tentando parar de soluçar.
            -Mas que merda homem, se acalme. Detesto pessoas como você. Para mim, todo maldito homem deveria ser durão, saber olhar as coisas de forma mais severa e não tremer feito um frango. Homem que é homem deve encarar a morte com firmeza, a encarando com os olhos bem abertos.
            O homem se levanta, e dando apenas dois passos para de frente ao rapaz, que tenta parar de chorar. Lentamente segue com a arma em direção à testa do rapaz, até tocar o cano na pele suada, o fazendo outra pergunta.
             -Já dormiu com quantas mulheres filho, mais de dez? Me diga que foi mais de dez, não foi?
            Kolerman demora algum tempo para responder, mas acaba falando mesmo que baixo demais.
            -Não sei ao certo senhor...
            -Não me venha com essa filho. Vamos foi ou não foi mais que dez, a pergunta é clara.
            -Não senhor.
            -Viu, muito simples, muito simples, “não senhor”, essa foi sua resposta. Posso te fazer mais uma pergunta? –Diz o homem enquanto olha bem no fundo dos olhos do rapaz.
            -Pode. –Responde Kolerman, com a visão de um demônio em sua frente.
            -Que merda de homem você é garoto, não digo pelas mulheres que deixou de comer, mas pela incerteza que passa até mesmo na hora de responder bobas perguntas, e pare de tremer seu merda, da pra escutar seus ossos baterem lá de fora.
            -Deixe-o em paz maldito. –Protesta Galergan, enquanto observa o rapaz abaixar a cabeça.
             -Aprenda com o xerife aqui rapazinho. Mesmo preso e com um rifle apontado pra sua cabeça, têm cunhões pra se impor. –O homem se afasta do garoto e volta pra perto do xerife. –Tenho que falar a verdade pra você xerife Galergan, iremos matar vocês dois. Mas como gostei muito de você, será o último a morrer, e não será nessa noite. Agora o seu amigo ai do lado, não vai ter a mesma sorte. –O homem se vira e sai pela porta, soltando um risinho estranho, enquanto retira um molho de chaves do bolso seguindo em direção a um carro estacionado próximo a uma árvore.

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            Olivia desperta. Abrindo os olhos lentamente, percebe que esta no mesmo lugar em que a deixaram. Com a boca tampada por um trapo e as mãos cortadas pela corda que puseram. Quase não se movia, tinha horas que a dor era intensa demais para se alto torturar. De horas que estava ali, era a primeira vez que não escutava nenhum barulho. Nem se quer do lado de fora. Se os homens que a prenderam estavam ali ela não sabia, mas deveria ser a sua única chance de escapar, ou ao menos tentar. Juntou as pernas no corpo e começou a se arrastar rumo à parede, como se fosse uma minhoca. Depois encostada na parede gelada se ergue lentamente com a ajuda das mãos amarradas para trás, até ficar completamente em pé. Conseguia ver a janela, já sabia que não conseguiria cortar as amarras, os homens aviam retirado tudo do banheiro, não existia mais tesoura e laminas de depilação que pudessem ajuda-la naquele momento. Andava em passos mais que miúdos, em direção à janela, se aproximava já pensando em como faria para abri-la. Era pesada, e precisava das duas mãos livres para tal ato. De costas destravou a janela e com os dedos, tentava puxar para cima, mas era impossível do jeito que estava amarrada, se ao menos estivesse com as mãos presas para frente. E assim, lembrou-se de como fazia pra escapar das amarras quando brincava com as irmãs, quando mais nova. Abaixou-se novamente e passou os braços com dificuldade pelas pernas deixando seus braços agora para frente como queria. Levantou-se rapidamente e agora facilmente deslizou a janela para cima, a travando com o ferrolho. Retirou o trapo preso a boca e arregalou os olhos olhando para baixo. A cidade estava empossada por causa da chuva, e escura devido à queda da energia. Eram uns bons quatro metros de altura de onde estava até a grama do seu jardim, mas pra ela estava baixo demais para o caminho da liberdade. Pensou em Ellys antes de pular, em como poderia deixar a filha com aqueles homens e fugir daquele jeito, nenhuma mãe faria aquilo, mas seria necessário ajuda, nunca conseguiria salvar sua filha sozinha e ainda mais naquele estado. Mas rapidamente parou de pensar em Ellys, no exato momento em que seu corpo se chocou com o solo. A dor foi intensa, mas logo ignorada e deixada para trás, enquanto seguia em direção ao mato que levava ate a pista acima da colina. De lá era apenas alguns metros ate contar tudo ao xerife e tomar novamente sua filha nos braços.

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             Carlo acabará de colocar o amigo Ed novamente em cima da mesa. Elizabeth logo tratou de rasgar a blusa de Ed e correr em direção a porta, encharcando com água da chuva o tecido para depois limpar o ferimento.
             Tio Mac checa a espingarda sentado em um banquinho, enquanto observa sua neta.
             -Parece muito com sua mãe querida. –Afirma ele sorrindo, falando com Elizabeth. Que só acena com a cabeça seguindo em direção a Ed.
              -O que faremos agora? –Pergunta Carlo observando o rifle do homem que Ed havia matado.
             -Trevys esta demorando muito Carlo, não quero ser pessimista, mas algo aconteceu!
             -Pior que também acho Ed, vou atrás dele...
             -Acalme-se rapaz, se for será pego também, temos que pensar antes de agir.               Quantos homens viu lá em cima na central do xerife? –Pergunta Mac levantando-se do banco.
              -Vi apenas dois...
              -Então já contei seis deles,-Interrompe Mac. -dois que você viu, dois que Ed viu na casa de Olivia, esse morto aqui e um morto na minha casa. Devem ter muito mais!
              -Mais que merda ta acontecendo aqui cara? –Carlo pergunta irritado passando a mão na cabeça de nervosismo.
             -Não sei rapaz, mas algo me diz que eles não são simples ladrões.

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            A porta do carona da Pickup abre, logo em seguida as duas outras portas traseiras também. O homem que sai a frente veste uma capa de chuva verde oliva. Os outros dois apressam-se em abrir os guardas chuvas para livrarem os ternos da água. Caminham em direção ao meio da pista, onde se encontra mais quatro homens armados que aguardam.
           -Digam que já esta tudo pronto? –Pergunta o homem protegido pela capa, passando a mão na barba.
           -Quase senhor, faltam algumas casas, mas não será problema... –Responde um homem franzino de boné portando uma calibre 12.
           -Pensei ser bem claro quando falei que só viria quando tudo estivesse pronto.
          -Sim senhor, mas ocorreram alguns problemas que eu gostaria que fossem resolvidos pelo senhor...
           -Diga logo o que houve, não podemos perder tempo nesse lugar.
           -Encontramos Kall morto em uma cabana mais acima, Tom ainda não voltou da colina mais abaixo, mas já mandei três homens verificar, e pegamos o xerife e o seu substituto, estão na central seguindo a pista ao sul subindo por aquele trecho. –Afirma ele apontando a direção.
           -Ao menos uma coisa boa rapazes, pegaram o xerife. Ande me leve até lá!
            -Claro senhor pode nos seguir no seu carro ou se preferir, ir no nosso. –Diz o homem olhando para os outros dois jovens que acompanhavam o seu chefe.
           -Iremos no nosso, podem ir, seguiremos vocês.
           Os três se viram e retornam ao carro. A lama suja o sapato do jovem de cabelo mais lambido, que olha para os mesmos com reprovação.
           -Que lugar maldito é esse. E por que diabos essa chuva não para?
           -Cala a boca Bill, só sabe reclamar. –Diz o outro rapaz que abria a porta.
           -Foram três mil e duzentos dólares Sanders. Dinheiro que você vive gastando com putas e uísque.
           -Não preciso de mais de quinhentos dólares nos pés pra alimentar meu ego irmãozinho, tenho garotas para saciar a sede do amigo aqui em baixo...
           -Calem a boca os dois! Essa graninha que vocês gastam vem do meu bolso se ainda não perceberam. E precisaremos de muito mais para pagar por toda essa empreitada. –Diz o homem de capa a retirando e entrando no carro, logo em seguida fechando a porta.
           -Seguiremos eles senhor? –Pergunta o motorista ao lado, um homem negro, alto,careca, de terno cinza e gravata vermelha.
           -Sim Walker, seguiremos eles até a colina a cima. –Diz ele olhando ao redor, admirado por tantos pinheiros e rochas.
           -Quantos homens temos aqui Saemon? –Pergunta Bill.
           -24 homens. Todos caçadores que conheci nos lugares por onde andei. E ainda faltam mais 22 que devem estar chegando pelos campos ao norte.
           -Pelos meus cálculos, cada um irá receber cinco mil...então pagaremos duzentos e trinta mil por todos. Onde arrumaremos o dinheiro? Sem falar em todo o custo que foi necessário para todos nós estarmos aqui.
           -Pagaremos com o dinheiro que tenho no banco...
           -Mais ai ficaremos com um saldo quase negativo, e temos menos de um milhão em bens...
           -Verdade Saemon, nossos negócios não andam tão bem assim... –Concorda Bill.
            -Meus queridos irmãos, sou Saemon Pileg, e os Pileg sempre tem uma saída de mestre para tudo. Exatamente tudo.   

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           -Estão com fome, trouxe uns biscoitos na bolsa, quer Ed?  -Diz Elizabeth.
           -Não obrigado. –Ele responde.
           -Temos que fazer alguma coisa, não podemos ficar aqui pra sempre, ainda mais enquanto aqueles loucos estiverem por ai, capturando todos. –Carlos diz irritado.
            -Espere filho não podemos fazer muita coisa por eles. E alem do mais, a única lei que existi na cidade esta impossibilitada de qualquer coisa.
           -Não sei quanto vocês mais vou procurar Trevys. Mac cuide dos dois até eu voltar, se dentro de vinte minutos eu não aparecer...
           -Certo garoto, não conseguiria mesmo manter você aqui por mais tempo, e acho que é a nossa única opção. –Assegura Tio Mac voltando a sentar-se no banquinho ao lado da porta.
           Carlo segura o rifle com as duas mãos e sai deixando a cabana atrás de si, seguindo direção ao caminho em que possivelmente Trevys havia ido.

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            -To quase lá, só mais um pouco. –Dizia Olivia com sigo mesma, enquanto acabava de subir a encosta da pista que levava a central onde possivelmente o xerife Galergan estava.
            As amarras das mãos ainda doíam e não haviam nem sequer saído do lugar, as amarras dos pés foram até que fácies de retirar, e o roxo da queda se fazia como uma tatuagem no ombro direito da mulher, que corria o mais rápido que conseguia em direção a possível salvação. Mas alguns metros depois, já se aproximando do destino, percebeu uma movimentação estranha, um homem de cabelos longos que nuca vira antes, adentrava em um carro e agora seguia em sua direção. Olivia assustada, ficou paralisada pelo medo de antemão, mas quando os faróis do veiculo se alinharam a estrada de terra e logo depois os feixes de luz a tocaram, não teve outra reação a não ser correr e se jogar barranco abaixo. O carro acelerou na direção em que ela estava, parando bruscamente lançando lama e pequenas pedras para os lados, a porta se abriu, o homem desceu já sacando a arma presa à cintura e olhou para baixo do barranco, mas a luz era pouca, e não existia movimentação alguma no local.

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             -Veja senhor o carro da frente esta parando, e se eu não me engano e o tal de Roff em pé ao lado do carro. –Diz o motorista ao patrão Saemon.
            -Certo, vamos descer. –Diz ele aos irmãos no banco de trás.
            As portas se abrem e os homens descem. Caminham em direção ao homem parado olhando para o barranco abaixo segurando uma pistola.
             -O que houve Roff? –Pergunta o homem franzino que veio no carro da frente guiando os irmãos Pileg.
            -Pensei em ter visto alguém.
            -Relaxa, pode ter sido algum animal. –Afirma ele olhando para baixo. –O senhor Pileg chegou mais os irmãos. –Diz ele baixo próximo ao ouvido de Roff.
            -Certo. Então temos a honra de conhecer pessoalmente os Pileg...
            -Você é o tal Roff que todos falam? –Indaga Saemon ao homem.
            -Ele mesmo. Esses devem ser Sander e Bill? –Diz Roff.
            -Sanders. –Corrige Bill.
            -Sim, Sanders e Bill, meus irmãos e sócios. Disseram que pegaram o xerife?
            -Sim senhor, eu mesmo o peguei. Estão presos dentro da central.
            -É mesmo, o rapaz ai me disse que pegaram ele e seu Substituto correto?
            -Eles mesmo. –Diz Roff seguindo em direção ao carro. –Vamos.
             Todos retornam aos devidos veículos e seguem o carro de Roff até a frente da central.

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            Trevys aparentemente estava sozinho, nenhum ruído se quer do lado de fora, e as pickups já haviam partido há algum tempo. O que faria agora para sair dali, não conseguia ver nem sequer suas mãos na frente dos olhos de tão escuro, e o frio ali dentro parecia pior do que do lado de fora devido ao metal. Abaixado com as mãos nos joelhos, pensava em como sair dali e o porquê daquilo tudo esta acontecendo. Quais motivos levariam aqueles homens a tomar toda uma cidade refém. A única coisa boa que conseguia tirar de tudo aquilo naquele momento, era da chuva esta parando. Sabia disso devido a força que os pingos caiam no teto do contêiner. Agora, fracos barulhinhos, antes se pareciam com rajadas de metralhadora que despencavam do céu em milhares de projeteis.

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            Tio Mac olhava para o lado de fora como se procurasse algo entre as árvores. Elizabeth olhava para a lua que começava a se mostrar próxima a janela. Ed dormia em cima da mesa com a perna amarrada por um pedaço da sua própria camisa de flanela.
           -Eliz minha querida, leve o Ed para o próximo quarto, e de pressa, estou escutando passos vindos lá de fora, e me parecem estar vindo pra cá. –Mac diz em voz baixa para a neta, que logo acorda Ed o ajudando a levantar.
           -E você Tio venha...
           -Vá logo, já estão bem perto.
            Mac se prepara para usar a velha espingarda se por ventura alguém venha a adentrar a cabana. E talvez fosse a sua única escolha naquele momento, já que três homens vinham em direção à porta onde Mac estava.
           -Onde será que o idiota do Tom se meteu. –Diz um dos homens olhando em direção à cabana.
           -Sei lá vai ver se perdeu com toda essa escuridão. Quase não vejo nada.
           -Reymond velho amigo, ilumine com sua lanterna, a minha deixei no carro.
           -Claro. –Responde o outro homem de coturno e um boné de pesca.
           Mac só observava os homens,agora parados a alguns metros da porta, e só depois que o feixe de luz atingiu o solo negro e molhado do local que Mac percebeu que a lamparina estava acesa no centro da sala da cabana. Virou-se rapidamente, mas o que viu, foi apenas um delicado rosto branco soprando a chama fazendo com que todo o lugar ficasse mais escuro do que do lado de fora, agora um pouco mais iluminado com a luz da lua, que saia de trás das carregadas nuvens.
           -Vamos, você vai por ali, Reymond checa a cabana e eu subirei por essa trilha, quero ver onde dá. Qualquer coisa assobiem. –Diz um dos homens subindo a trilha estreita e deslizante de cascalho.
           -Mac estava aliviado por causa da lamparina, mas não impediria que o homem adentrasse, mas ao menos sabia que era apenas um deles e não os três. Agora deveria pensar rápido, e arrumar um jeito de derrubar o homem e tirar Elizabeth e Ed dali o mais breve possível, antes que os outros dois voltem e encontrem um dos seus desacordado.
           O homem toca na porta a empurrando para frente. Depois de aberta da cuidadosos passos para dentro do recinto, inspecionando tudo a sua volta. Sentia cheiro de alguma coisa, e pela quantidade no chão, foi rápido a dedução de que seria de sangue. Eram anos caçando, poderia sentir aquele cheiro a muitos metros de distancia. Uma rápida olhada atrás da porta o revelou apenas um banquinho, um enorme tapete estava aberto no meio da sala empoeirada, um lustre barato estava preso ao teto, com tantas teias de aranha que mal se podia ver os detalhes do cobre com os cristais. Mais alguns passos para dentro e uma passada cuidadosa com o feixe da lanterna, o revelou um rastro de sangue que seguia até o outro cômodo da velha cabana. Então parou, lentamente colocou o rifle atrás das costas preso a alça e sacou o revolver prateado, deu alguns passos para trás e curvando a cabeça para o lado sem coloca-la para dentro do aposento, consegue ver dois pares de pernas, pareciam ser duas pessoas sentadas no chão no canto do possível quarto, mas apenas um par se mexeu, recuando para perto de si, como se quisesse se esconder de seus olhos treinados no que se considera a arte de caçar.
            -Peguei vocês, seus merdas. –Sussurra ele enquanto aponta a arma para os dois enquanto passa pelo portal do aposento.
             -Acho que não. –Afirma Mac por de trás do caçador, o atacando com o cabo da espingarda. Que só consegue ver depois da pancada na cabeça, o rosto da jovem Elizabeth abraçada com Ed deitada em seu colo.

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           A decida foi mais dolorosa do que esperava, agora se não bastasse o roxo no ombro, o esfolamento dos punhos e tornozelos, estava toda arranhada e um fino graveto a havia perfurado por de trás da coxa quase na junto com o joelho. Levantando-se Olivia retira os cabelos sujos e embaraçados do rosto e caminha lentamente até próximo a uma pedra lisa e brilhante por causa da água. Senta-se e respira o mais fundo que pode, logo caindo no choro, levando as mãos amarradas aos olhos.
           Depois de alguns minutos sozinha com seus terríveis pensamentos, a mulher levanta-se, talvez para uma última tentativa de pedir ajuda, quem sabe em alguma casa vizinha, mas foi surpreendida com uma mãe firme a tampando a boca, e outra a envolvendo pela cintura. Olivia se chacoalhava para ambos os lados tentando se soltar, mas desistiu ao ouvir a seguinte frase: -Sou eu Olivia, Carlo, calma.
A mulher sentiu um alivio profundo no peito, Carlo a havia soltado. E de recompensa recebeu um forte abraço acompanhado por um choro de felicidade.
         -Calma ta tudo bem...cadê Ellys? –Perguntou.
         Ainda chorosa respondeu. -Deve esta dentro da casa, não sei ao certo...ajude minha filha por favor, ajude...
        -Calma vamos ajuda lá, mas primeiro temos que achar Trevys, acho que o pegaram, ele estava seguindo em direção à casa do médico, o senhor Elliot...
        -Já devem estar por lá, escutei alguns homens falando que subiriam a estrada atrás do xerife, à casa de Elliot fica quase ao lado...
        -Droga.-Carlo se abaixa tocando a pedra, olhando em direção a praça da cidade.
        -Além do mais, disseram que ainda faltavam chegar mais homens, não sei da onde...
         -Espere. –Interrompe Carlo, apontando a direção onde Olivia deveria olhar.    –O que é aquilo? Parecem contêiners não é?
        -Sim...mas...o que fazem ali?
        -Venha, vamos descobrir...cuidado com as pedras. –Alerta ele a mulher a ajudando a descer a íngreme e escorregadia trilha que os levava as três enormes caixas de metal.

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              O homem adentra a central, seguido por seus irmãos que o acompanham sempre prestando atenção em tudo e todos, talvez um pouco desconfiados, por estarem sempre cercados de homens armados.
              -Então esse é o xerife da cidadezinha dos corvos? –Saemon pergunta se aproximando de Galergan.
              -Sim senhor, e esse ai do lado, é o bosta do substituto, não chegue muito perto, ele pode acabar mijando no senhor de tanto medo. –Zomba Roff olhando fixamente para Kolerman que nem se quer levanta a cabeça.
             -Meu irmão precisa se divertir um pouco, leve-o Bill, acho que cuidará muito bem dele. –Diz Saemon sorrindo olhando para Galergan. –A cidade inteira é nossa? –Pergunta ele a Roff.
            -Ainda faltam a parte oeste e um casarão próximo às montanhas, mas nada pra se preocupar, meus homens já devem estar lá. –Diz Roff puxando um rádio preso a cintura. –Mercedes aqui é Ford Gt câmbio. –Em voz firme Roff repete até obter resposta.
           -Mercedes na escuta Ford Gt.
           -Como esta a pista por ai?
            -Tudo tranquilo Ford, só paramos para trocar o pneu. Mas logo estaremos ai de volta com mais alguns steps.
           -Tragam todos que estiverem ai, eu me encarregarei de todos eles.
           -Certo Ford, mas alguma coisa?
           -O casarão já checaram?
           -Vai ser moleza, mandei três homens pra lá, só pra garantir o sucesso da corrida.
           -Não enrolem, a Ferrari e os Porches chegaram.
           -Certo senhor, me de apenas alguns minutos, logo estarei ai.
           -Certo então, câmbio desligo. –Encerra ele soltando o botão do rádio voltando a coloca-lo na cintura.
           -Ferrari e os Porches é Roff, desde quando ficou tão criativo? E de longe você ser um Ford Gt, aquilo é uma maquina, você apenas um saco de ossos que mau consegue segurar –se em pé. –Saemon diz o olhando com desdém.
            -O importante senhor que esta tudo certo.
            -É me parece que sim. Apaguem o xerife e o coloquem no meu carro, Bill fique com a Pickup e divirta-se com esse ai. Nos encontraremos no mercado próximo ao lago, preciso de um café e outro maço de cigarros.
             -Certo senhor. –Concordou Roff  dando uma coronhada em Galergan que apaga, logo sendo levado por dois homens em direção ao veiculo.
             Com todos fora do aposento, Bill olhou para Kolerman e logo tratou de arrasta-lo para fora, pelas pernas presas. Amarrou uma corda em volta dos fortes nós já existentes e seguiu rumo à traseira da pickup amarrando a outra ponta no guincho do veiculo.
              -Vamos brincar neném. Conhece “siga o mestre”?
              -Não. -Kolerman diz chorando, como se quisesse implorar pela vida.
              -A boca dele Bill, ele vai gritar. –Alerta Sanders o irmão.
              -Droga é mesmo. Pode fazer esse favor pra mim irmão querido? –Diz ele entrando no carro já dando a partida.
              -Claro por que não. –Sanders diz seguindo em direção a Kolerman, logo depois retirando um lenço se seu bolso o colocando dentro da boca do homem, preso deitado ao chão.-Feche os olhos filho, será horrível. –Afirma Sanders levantando-se e rindo ao se afastar.

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             Carlo toca no metal molhado e frio. São três delas um pouco afastadas uma da outra, localizadas bem ao centro da praça da cidade. Ambas trancadas com grossos cadeados.
            Olivia escuta barulhos em uma delas. Exatamente na do meio. Apontando com o indicador Olivia mostra a Carlo de onde vem. Ele agora escuta e segue em direção.
             -Alguém ai dentro? –Diz ele com o ouvido encostado no contêiner com as duas mãos espalmadas na parede metálica.
             -Carlo? –Alguém pergunta do lado de dentro.
             -Trevys? Seu filho da mãe esta bem, te machucaram cara?
             -Não, estou bem cara, me tira daqui, uns homens me puseram aqui...
             -Espere vou abrir a porta.
            Carlo procura algo pesado para arrebentar o cadeado que tranca Trevys. Mas o que conseguiu achar foi somente uma pedra não tão grande. E logo começaram as batidas. O som do metal seguia para todos os cantos da cidade. Logo os homens que prenderam Trevys estariam ali, e se Carlo não fosse rápido, estariam também presos junto ao amigo. Ou pior, mortos. Mas na sexta batida o cadeado simplesmente abriu. Carlo riu com o acontecido, mas logo tratou de destravar o ferrolho e abrir a porta do contêiner para que Trevys saísse.
            -Obrigado amigo. Mas como me achou? –Trevys questiona franzindo a testa.
            -Achei estranho esses contêiners aqui no meio da praça, mas foi Olivia quem ouviu a sua respiração amigo. Deve a ela mais do que a mim.
           -Iremos ficar aqui quanto tempo gente? –Pergunta Olivia aos dois. –Temos que sair daqui, ou nos pegarão.
           -Verdade, vamos Trevys, vamos voltar para a cabana.
           -Espere...tranque de volta a porta. –Anuncia Olivia.
           -Claro. –Responde Carlo trancando o cadeado, logo depois abandonando o local junto da mulher e seu amigo.

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            A mansão é bem no alto da colina, bem próximo ao sopé da montanha apelidada de Grande Ursa. As janelas do andar de cima estão todas abertas. O vento sopra as cortinas de tom vinho para todos os lados do aposento de pouca iluminação. Certas vezes, o tecido da cortina chega a tocar algumas folhas recheadas de palavras e algumas com rabiscos e desenhos aparentemente sem sentido. Alguém esta na cama. Daquele ângulo dava pra ver apenas pés descalços em cima de lençóis brancos que tocam o chão de madeira. Até a bela jovem se levantar e tocar os pés no chão, seguindo em direção a uma poltrona de couro de cor verde musgo, onde havia deixado uma blusa preta em um dos braços. Rapidamente cobre os seios que antes estavam à mostra, ainda não sendo o suficiente para disfarçar os bicos petrificados pelo frio da noite. A mesinha de centro de vidro lhe serviu como banco e com as pontas dos dedos, retirou um cigarro do maço que estava jogado no chão próximo a uma pilha de CDs e de umas dezenas de revistas de moda. Uma delas até apresentava a sua foto na capa. Um trago para si e outro trago para fora. Uma passada de mãos nos cabelos, levando uma das mexas por de trás da orelha. Um olhar esverdeado para além da janela. Outro trago e um suspiro de exaustão ao soprar a fumaça para fora dos pulmões.
      -Friozinho de merda. Cidadezinha de merda. –Diz ela irritada lançando o cigarro para longe da janela. Mesmo cigarro que rola pelo telhado e cai se apagando na lama, em frente da porta principal, onde três homens acabam de passar.

                                                                                               Fim do Capitulo 1

Capitulo 2
A caçada

            A porta havia sido aberta provavelmente com um disparo, devido ao dano na fechadura. Os homens lá dentro observavam sentados, a fina chuva que caia, acompanhados de uma boa e quente xícara de café em cima da mesa redonda do mercado. Saemon dá um gole lambendo o lábio inferior olhando em direção a Sanders. Roff esta sentado próximo ao balcão segurando uma garrafa pequena de cerveja enquanto observa um porta retratos do dono do estabelecimento com um senhor já de certa idade. Mas logo o silêncio é quebrado com a entrada de Bill no recinto, o sino preso à porta faz barulho e ele bate o sapato no tapete de bem vindos, logo depois de passar pelo portal. Segue até a mesa onde os irmãos estão e se senta, puxando a xícara de Sanders junto a si, logo agarrando a mesma com a mão coberta pela grossa luva, levando em seguida a xícara de café a boca.
              -Então irmãozinho, se divertiu? –Questiona Sanders com olhar de reprovação puxando a xícara para perto de si novamente.
              -Claro. –Responde ele soltando um leve sorriso.
              -Bem, já estamos na metade do caminho senhores, só nos falta seguir até a cabana. Achar os papéis e seguir colina a cima...
              A porta se abre de novo, fazendo o sino tocar novamente, interrompendo Saemon em seu discurso. Um homem de barba e boné, trajando um colete verde recheado de iscas de peixe e munições, se aproxima segurando um rifle na mão e diz para Roff: -Senhor mais um homem desapareceu, já é o terceiro, e todos seguiram para o sul...
              -Quem desapareceu dessa vez? –Roff pergunta já se levantando, deixando a garrafa vazia no balcão.
              -Reymond senhor, seguiu com mais dois homens há pouco tempo, mas só os dois homens voltaram, disseram que poderiam ter pessoas armadas dentro de uma velha cabana abaixo da colina.
              Roff balançou a cabeça negativamente, deu alguns passos em direção a Saemon e disse: -Senhor irei cuidar disto, precisarei de apenas uma hora, depois prosseguiremos com o combinado...
              -Já que estamos aqui, -Interrompe Saemon se levantando. –Gostaria de ir e caçar um pouco. Nunca tive a oportunidade de caçar pessoas antes, deve ser uma experiência única...preparem três rifles dos bons, eu e meus irmãos iremos também.
             -Certo senhor. –Concorda Roff, já se apressando em sair para conseguir os rifles.
             Bill olha diretamente nos olhos do irmão Sanders e sorrir, como sempre faz antes de saciar a sede de sua loucura interior.
            -Só espero que não tenham mulheres nessa cabana. –Anuncia Sanders aos demais se referindo à mente perturbadora do irmão mais novo Bill.

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               A tecla play foi pressionada no controle remoto do micro system de cor prateada, logo depois uma capa de CD é colocada em cima da mesinha de vidro.

               A garota mal havia pego a maçã em cima da mesinha sob um prato largo e raso e dado uma mordida quando a campainha toca. Lançada na cama, a maçã rola em direção ao travesseiro caindo próxima ao Senhor Cloud, que só cheira a fruta e volta a deitar sobre as patas da frente. Senhor Cloud, nome dado ao gato preto da mãe falecida pela garota. Anna não gostava do antigo nome, era antigo demais para ser nome de gato. Olhou em direção a porta do quarto que dava para um estreito corredor, cuja parede estava recheada de quadros.
            -Quem é Saly? E ainda mais essa hora da noite? –Gritou ela não obtendo resposta imediata. –Saly?
            -Senhorita Adlon. –Diz a governanta adentrando o quarto. –Falei com eles pelo interfone, disseram vir a mando do xerife Galergan, precisam lhe falar algumas palavras, disse um membro da guarda alto de boné, e parece que portam armas, será que é grave?
            -Não sei Saly... Mas meu pai não falou tudo que tinha pra falar com esse xerife. Acho que ele deixou bem claro em dizer que não queria que ninguém soubesse que estou aqui, e que eu aqui seria um segredo é só você e ele saberiam da minha existência nessa cidadezinha por causa dos miseráveis repórteres.
             -O que eu digo a eles senhorita...
             -Nada Saly eu mesma direi. –Diz Anna passando pela governanta enquanto abandonava o quarto calmamente seguindo o corredor ate dar de encontro à larga escadaria central da antiga mansão.
             -Senhorita seus trajes não são um pouco impróprios...
             -São apenas homens Saly. -Interrompe ela. -Além do mais duvido que me comerão pelo outro lado da porta.
            Se aproximando, a garota para de frente a porta vendo os três homens pelo vidro lateral do arco quadricular.
            -O que querem? –Pergunta ela encarando os homens, mais parecidos com simples caçadores do que com membros da guarda do xerife.

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           -O que querem aqui? –Pergunta Mac apontando a espingarda para a cabeça do invasor.
           -Abaixe a arma idiota, não pode atirar em mim, os meus homens escutarão e logo encontrarão vocês. Somos os melhores caçadores do país seu tolo...
          -Pare de ladainhas e me diga o que querem aqui, te darei cinco segundos, logo depois puxarei o gatilho, e não me diga o que devo fazer seu merdinha, e você não é caçador porra nenhuma e se for mesmo um caçador, é o pior deles então. Um bom caçador não deixaria ser pego tão facilmente. E se fosse um javali? Que é bem mais rápido do que eu, já teria encravado em você os fortes caninos e você estaria no chão rezando para ir o mais rápido possível pro inferno. –Diz Mac posicionando a espingarda entre os olhos de Reymond que temia do velho não estar blefando.
         -1...2...3...4...
         A porta da frente da cabana se abre num empurrão, assustando Mac que sem querer puxa o gatilho, fazendo lançar em algumas dezenas de pedaços a cabeça de Reymond pelo ar, deixando boa parte esparramada na parede perfurada pelo projétil.
         Carlo, Trevys e Olivia se assustaram com o barulho, Olivia até havia levantado as mãos em rendição, até perceber que Mac, o velho da casa a cima da colina havia atirado em alguém no exato momento em que entraram.
       -Mas o que fez homem? –Pergunta Trevys.
       -Perdoe-me amigos, mas me assustei com a entrada de vocês. –Se defende.
      -Era um deles? –Questiona Carlo.
      -Claro que sim. Nunca mataria um inocente. –Afirma Mac.
       -Tio esta bem? –Pergunta Elizabeth entrando na sala olhando para todos.
       -Sim querida, apenas me assustei e acabei atirando sem querer no homem.
       -Agora vão vir pra cá, com certeza escutaram o barulho. –Afirma Ed sentado de costas para a parede no quarto ao lado. –Terão que sair daqui o mais rápido possível.
       -Teremos Ed, teremos, não deixaremos você aqui, pra aqueles vermes lhe fazerem mal. - Afirma Tio Mac.
       -Certo... Vamos, Ed têm razão. Deveremos sair daqui, mas pra onde iremos agora? –Carlo pergunta olhando para todos, buscando alguma ideia.
       -Subiremos a colina, vamos em direção à floresta das raízes pela passagem... –Diz Elizabeth logo sendo interrompida.
       -Será uma subida em tanto para Ed... –Questiona Carlo.
        -Eu consigo. –Afirma ele, sem nem mesmo ver os que estavam na sala.
        -Então vamos logo. –Apressa todos Elizabeth.
       -E minha Ellys, como fica Carlo? –Pergunta Olivia já chorosa.
       -Sairemos primeiro daqui. Prometo que logo depois buscaremos sua filha. -Diz ele adentrando o quarto onde Ed esta para pega ló.


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         Os homens caminhavam cuidadosamente entre as árvores segurando os rifles de alcance. Os Pileg um pouco mais atrás seguiam os treze homens que desciam a colina por uma trilha estreita e íngreme. O mais velho ajustava a mira de seu rifle, logo depois arrumando os óculos no rosto. Enquanto os outros dois apenas seguiam sem dizer uma palavra, concentrados em apenas não tropeçar em alguma pedra solta pelo caminho.
         -Senhor a cabana fica a poucos metros ali na frente. –Diz Roff apontando para a direção mais ao leste.
         Apenas com um aceno de cabeça Saemon confirma que esta ciente e acena com a mão para que prossigam.
         -Deveríamos ter trocado de roupa, mal consigo me mexer nesse terno. –Afirma Bill, desabotoando os botões das mangas.
         -Só fique quieto pelo amor de Deus. Se Saemon me chamar atenção por sua causa, terei o prazer de meter a primeira bala desse rifle em você. –Diz Sanders reprendendo o irmão mais novo com uma olhada fixa nos olhos.
         -Lá esta ela senhor. –Afirma um dos homens apontando para a velha cabana, enquanto Roff e Saemon se apressam para tomar a frente para ver.
         -Me parece vazia. –Roff sussurra, enquanto se abaixa.
         -Cerquem a cabana com cuidado, eu irei achar um lugar privilegiado para um bom tiro. E ninguém sai vivo da cabana ouviram! –Afirma Saemon fitando Roff e os irmãos com autoridade.
          -Certo senhor. –Concorda Roff acenando positivamente com a cabeça, logo fazendo sinal para os demais seguirem para seus postos.

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         A luz da lâmpada é fraca, parece que a qualquer momento poderá se apagar. Na janela puseram tabuas para fechar a possível saída, pois a porta estava trancada fazia muito tempo. Latões de tinta vazios e caixas de papelão se amontoavam pelos cantos do pequeno quarto, nas prateleiras presas às paredes só existiam sacos e mais sacos de cimento e alguns tinham um pó branco sem nomeação alguma. O teto estava mais escuro que o céu, e o chão era de um tom marrom, frio feito gelo ou feito os picolés que adorava tomar quando verão.
        A garota estava deitada, já havia se cansado de ficar sentada encostada nos latões que hora ou outra se mexiam, fazendo barulhos irritantes aos ouvidos.
        E para ela o mundo havia se entristecido, e a lua havia ficado triste, por isso não havia razão para irradiar a sua luz no ceuzinho agora mais escuro que seu quadro negro perdido em algum lugar do seu belo quarto. Também sentia falta da boneca Mirna e do seu caderno de desenhar perdido na cozinha. Seus porta retratos que ela mesmo havia feito de papelão e papeis coloridos meses atrás, para colocar as poucas fotos do pai, no dia em que a levou para o parque na cidade grande no último aniversario. Agora as lagrimas ganhavam a face angelical da pequena garota que apertava os ombrinhos num forte abraço buscando livrar-se do frio que o quarto de bagunças da mãe fazia. E a canção que sua mãe cantava todos os dias antes de leva-la para dormir é lembrada. Então ela começa a cantar a singela canção antes cantada pela mãe, seguida de um choro assustado e de um coraçãozinho apertado de saudades e da falta de colo e carinho.

O Céu escureceu
A lua já vem vindo
As estrelas aparecem
Uma por uma e vão surgindo

O solzinho foi dormir
E a luazinha acordou
Pra proteger as criançinhas
Do lobinho assustador

Meu travesseiro é macio
Minha cobertinha é quentinha
Dormiremos MIRNA E eu
Protegidas pelas fadinhas...
         
          Mas de repente uma forte batida na porta a faz parar de cantar.
        -Cala a boca sua pirralha...ou entro ai e te dou uma surra, sua fedelha de merda. –Diz a voz grossa vinda de trás da porta, fazendo à pequena Ellys aperta mais forte o seu abraço.
         Agora o lugar empoeirado tem apenas o choro da menina como canção.

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        -Falta muito até a passagem Mac? –Pergunta Carlo ajudando Trevys a carregar o comerciante Ed.
        -Talvez mais um quilometro ou menos. Deveremos seguir o Velho rio até que ele desça pelas pedras, só me lembro disso. Faz anos que não caminho por essas bandas. –Mac responde enquanto olha para trás, checando se não estão sendo seguidos.
        -Alguém esta com fome, ainda tenho alguns biscoitos na bolsa. –Anuncia Elizabeth.
       -Por favor, eu desejo alguns. Desde tarde que não como nada. –Diz Olivia se aproximando da garota olhando os esfolamento nos pulsos, causados pelas amarras.
        -Claro. Aqui pegue, também tenho um pouco de água, deve estar com sede. –Elizabeth diz abrindo o zíper da bolsa retirando meio pacote de biscoitos e uma garrafa pequena com menos da metade de água.
        -Obrigada querida. –Agradece Olivia a tocando devagar no ombro.
        -Vamos não parem, ainda temos muito a caminhar. –Diz Carlo olhando para as duas com feição de cansado.

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         Anna estava de frente ao vidro lateral encarando os homens que por hora não haviam respondido a sua pergunta, até o homem mais atrás se pronunciar.
        -O xerife Galergan, pediu pra que avisássemos que foram vistos três ursos por essas regiões. Avistamos um deles atrás da sua propriedade senhorita. Queríamos um pouco de carne e uma tomada disponível para carregarmos as baterias das lanternas, para continuar a caça. Seria possível nos ajudar? –Diz o homem mostrando as lanternas de cor vermelha na altura dos olhos da garota. -É a única casa nessa parte da cidade. –Complementa ele.
        Anna dá dois passos para trás e pedi para Saly abrir a porta, enquanto acena para os homens esperarem. A governanta gira a chave que já estava na fechadura duas vezes. Os três homens escutam o click indicando que a porta estava destrancada. O homem da frente rapidamente dá de ombros na porta a fazendo se movimentar para dentro, mas apenas alguns centímetros por causa das duas correntes que a impede de abrir na parte de baixo da porta, quanto na parte do meio.
        A garota dá mais dois passos para trás, enquanto o homem frustrado e um pouco sem graça tenta forçar mais a porta com intenção de adentrar o local com os companheiros. Saly assustada puxa o braço da garota a levando para a cozinha, enquanto Anna vê braços e mãos tentando achar um modo de vencer a porta até sua visão ser interrompida pela parede recheada de azulejos de cor marfim.
        -E agora querida o que faremos. Devem querer sequestra-la...
        -Não sei Saly estou pensando. –Diz ela calmamente a governanta, como se nada tivesse acontecendo. Como se fosse normal ser abordada grosseiramente na porta de casa por homens armados.
        -Onde fica aqueles armas de caça do vovó?  –Pergunta ela olhando em direção à porta no exato momento em que disparam contra o vitral na sala.
        -No escritório senhorita, no escritório. –Afirma Saly nervosa.

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          Roff se aproxima lentamente da porta principal da cabana. Os outros homens a cercam um pouco mais afastados por de trás de arbustos e árvores. Saemon se posiciona mais acima de um monte de terra, deitado no chão mirando por entre as frestas de uma janela lateral, que o revela uma fraca luz de lamparina presa a uma das colunas. Seus irmãos seguem pela porta dos fundos cada um preparado para atirar em qualquer coisa que se mova. Bill é o mais sedento por ação, fazendo o dedo deslizar pelo gatilho diversas vezes. Enquanto Sanders estica o braço para abrir a porta aparentemente encostada.
          O homem empurra lentamente a porta principal com o cano do rifle, enquanto observa pela abertura, se há movimentação do lado de dentro antes de abrir por completa a porta. De inicio, Roff vê apenas uma lamparina acesa, iluminando uma mesa no meio do que seria a sala acompanhada de um pequeno sofá e quadros de paisagens na parede. Logo a frente um corredor que segue direto para a cozinha virando para a esquerda mais adiante. Possivelmente um quarto ou o banheiro do local. Faz sinal com as mãos para que todos entrem, e em seguida se abaixa por detrás do velho sofá de cor vermelha. Seus capangas entram passando pela janela quebrada e pelas portas da frente e detrás, acompanhados dos dois irmãos, Sanders e Bill, que já seguem para aposentos contrários. Saemon vê toda a movimentação dentro da cabana pela mira excelente que lhe deram, mas estava receoso em perguntar se havia de fato alguém lá dentro. E foi essa a informação que obtivera depois de alguns segundos até escutar o primeiro “limpo por aqui!” de quase todos os homens, menos o de Roff que acena em direção a mira balançando o braço em sinal de “não encontramos ninguém”, fazendo Saemon se levantar e bater a terra vermelha que sujava as suas vestes.
         -Vamos então rapazes, eles não devem ter ido muito longe. Tragam o cachorro, não podemos perder tempo, temos apenas até o amanhecer para dá o fora dessa cidade. 
          -Vamos rapazes, vamos revirar todo esse mato, e achar os vermes que mataram nossos três melhores homens. – Diz Roff passando a mão na cabeça do cachorro depois o soltando, e vendo o animal correr com toda velocidade para uma trilha localizada atrás da cabana que sobe até os montes ou mais além.

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               Do porta malas do carro soa um som como o de uma pancada vinda  de dentro. O homem sentado ali perto escuta o barulho e rapidamente já se levanta do chão úmido evitando aproximar o rosto da fogueira a sua frente.
             -O que quer agora miserável? –Questiona o homem mordendo uma asa de frango enquanto segue para mais próximo do veiculo.
            O osso e arremessado longe, em um arbusto muito além da clareira levando o caçador a limpar a mão na grossa calça jeans por causa da gordura entre os dedos. Com a outra retira do bolso traseiro as chaves do carro logo depois o encaixando na fechadura e abrindo o porta malas onde Galergan estava preso.
            -Preciso descarregar a bexiga parceiro. –Afirma Galergan, olhando para o homem a sua frente que sorri depois que ele termina a frase.
            -Vamos lá bebezinho, apesar de não estar nem ai com você, zelo pela higiene do meu carro. –Diz ele agarrando Galergan com força pela camisa do uniforme o retirando do porta malas deixando cair no chão de joelhos.
           Galergan geme de reclamação pela dor que sentiu ao cair, logo depois dizendo: - Caralho, por que me deixou cair, estou amarrado, não posso me segurar em nada? –Pergunta ele com os tornozelos e mãos trancadas por algemas.
           -Foi mau xerife, esqueci. –Responde o homem rindo de Galergan.
            Galergan ajeita os pés rentes e aproxima os joelhos doloridos perto um do outro, depois fechando e apertando os olhos como se fosse fazer força. O homem ao seu lado o segura pelo braço esquerdo e pelo cinto fazendo força para erguê-lo. E foi isso que aconteceu, o xerife sobe rapidamente com a ajuda do seu raptor e junto com a força que exerceu para também se levantar, e com força o suficiente para atingir em cheio o queixo do homem o fazendo cair no chão escuro da Cidade dos Corvos. E foi exatamente o que ocorreu. Ali estava o homem apagado com o forte choque no queixo que Galergan havia lhe proporcionado.
              A cabeça doía por causa da pancada, mas foi à única ideia que ocorrera na mente. A clareira estava vazia, temia haver mais homens, mas havia silêncio demais, se existissem mais deles estariam conversando sobre alguma futilidade provavelmente, além do mais os únicos passos que Galergan havia escutado por todas àquelas horas deveria ser apenas de um homem, o que acabara de abater.
             Revistou os bolsos do homem, encontrando munição nos bolsos da jaqueta e uma Smith & Wesson calibre 45 presa atrás da cintura do homem desacordado. Encontrou também as chaves do veiculo, mas rapidamente imaginou que seria uma péssima ideia, ainda mais que a cidade estava repleta desses mesmos homens por todos os cantos, seria muita tolice tentar a sorte em dirigir um carro naquela altura do campeonato. Sabia que teria que ser discreto e cauteloso. E isso sabia fazer antes mesmo de conquistar o uniforme de xerife.
            -O que faremos agora Xerife Galergan? –Pergunta a si mesmo olhando para os lados aflito, guardando as munições nos bolsos da calça se levantando em seguida.
Ate que seu pensamento é interrompido por um disparo vindo de mais acima da clareira alguns metros de onde estava. Subiu rapidamente a encosta para checar se era mais algum homem que estaria na sua captura. Depois de quase dois metros de subida escalando com a ajuda de raízes e pedras, Galergan chega ao topo, uma olhada por sob a terra molhada o revela a alguns metros a diante o velho casarão dos  Adlon, e bem na frente da porta um grupo de três homens vestidos quase da mesma forma que o homem que ele havia desmaiado anteriormente, atiravam na porta principal da residência logo depois adentrando ferozmente como lobos famintos, escutando um deles dizer antes de sumir de visão e adentrar o local:
          -Ela é minha primeiro rapazes....
          -Droga, estão atrás da garota e da governanta. –Diz ele num sussurro checando à pistola. -É arriscado mais tenho que ajuda-las. –Levantando-se, logo em seguida correndo em direção a cerca das dependências dos Conni Adlon .

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           A garota corre rapidamente para o escritório do avô, e logo encontra a Winchester calibre 12 presa a parede, em cima da prateleira de livros sobre conspiração que o avô gostava de ler. Segurando a arma com firmeza, - pois já havia atirado antes em companhia do pai - checou se estava carregada, e ao ver notou que sim, agora apontando em direção a porta do escritório entre aberta, aguardando um de seus invasores adentrar. Pensou em Saly por um segundo, se estaria bem e onde havia se escondido, mas a porta é empurrada e um dos homens adentra segurando um revolver na mão direita fazendo fugir os pensamentos da cabeça. Um pouco surpreso mais não querendo demonstrar desconforto em vê-la armada ele diz:                
          -Abaixe essa arma garota, não iremos machucar nenhuma de vocês... –Quando é interrompido.
          -Cala a boca idiota, vai se arrepender de ter passado por aquela porta, reze pra que não doa... –Ela diz.
          -Hora sua putinha de merda, com quem pensa que esta falando? –Retruca ele levantando a arma em direção a ela. Até ser empurrado um pouco pra trás depois do forte impacto no peito.
           Anna respirava fundo e calmamente, ao ver o corpo do homem caindo em meio ao corredor se encharcado de sangue segundos depois do disparo, a fazendo lembrar-se de sua mãe e do que ela havia lhe dito.
           Quando pequena os pais perceberam que não sentia medo de nada, que brincava com as baratas quando bebê e que não se sentia desconfortável no escuro como as outras crianças, não tinha medo de altura e nem mesmo sentia aquele velha sensação na barriga, já havia visto pessoas mortas e nunca, nunca se assustava assistindo quaisquer que forem os filmes de terror, por melhores que fossem. Não reclamava por dor nenhuma, apesar de ainda senti-la, era isenta de reclamações e não se importava com quase nada, tirando a sua coleção de CDs, e não sentia nenhuma repulsa ou temor em coisas que os demais geralmente sentiriam. A mãe lhe dizia antes de dormir que a garota estava protegida por um anjo, e que não temeria nenhum mau, se prometesse ao anjo tentar nunca se envolver com problemas.
           A promessa de Anna havia se cumprido até o exato momento em que os homens atravessaram a porta, disso ela sabia, que a culpa dessa vez não era dela, a culpa e o problema havia batido em sua porta naquela noite, e na porta errada, pensava ela, já se preparando para o próximo disparo caso apareça um próximo invasor.
          -Ei Anna...esse é seu nome não é? –Grita um dos homens provavelmente na sala. –Não iremos machucar você e nem sua empregadinha se abaixar a arma e vier conversar com a gente.
          Anna escuta o choro da governanta possivelmente em mãos dos invasores, e levemente abaixa a arma –Como se o fato de Saly ter sido pega a preocupasse. Afinal de contas fora ela que a criou por anos. - Logo a erguendo de novo enquanto segue próximo ao portal para tentar ver o que estava realmente acontecendo do lado de fora do escritório. O que via era os dois homens que haviam sobrado, e um deles segurava apontado para a cabeça de Saly uma pistola, enquanto o outro ria ao lado segurando o rifle com ambas as mãos.
           -Aproxime-se moça, vamos conversar. –Diz o homem segurando a governanta pelo pescoço de costas para si.
           -Solte-a ou...
           -Ou o que gostosinha, acha que vai ter a mesma sorte que teve com Jackson? –Pergunta ele.
           -Verdade. –Diz Anna abaixando a calibre 12 seguindo lentamente em direção aos falsos guardas da Cidade dos Corvos.
           -Boa garota, é isso mesmo, não pode fazer nada moça... –Diz o homem com o rifle se aproximando de Anna para tomar sua arma e prende-la depois.
          A garota olhava dentro dos olhos do homem que se aproximava. O cheiro era como se acabasse de sair de uma fossa, os dentes da frente eram tortos e cariados, o cabelo engrenhado debaixo do sujo boné aparecia acinzentado próximo às orelhas, e dava pra perceber de longe as unhas sujas por causa do barro ou da graxa de carro, e olhando por cima do ombro um terceiro homem caminhava silenciosamente por detrás do outro invasor que segurava Saly como refém –Esse homem sim estava com vestimentas da guarda do xerife- observou ela, apontando rapidamente a Winchester para a cabeça do homem agora a sua frente.
            -Não faça isso garota, ou sua empregadinha morre!
            -Eu acho que não. –Responde ela.
            O homem começa a rir logo depois se virando buscando ver o companheiro segurando a senhora pelo pescoço, mas além disso, vê seu parceiro com uma arma apontada para a cabeça, enquanto entrega a arma para a governanta. O maldito xerife estava ali tentava acreditar, mas como havia fugido, pensava ele. Se virou então para falar: -Moça... –Foi o que ele começou a dizer, no momento em que Anna aperta o gatilho fazendo a cabeça do homem explodir em sua frente.
            -Eu disse desgraçado... Não! –Diz ela sem nenhuma emoção na face suja de sangue.
                                           ****************************

             
          Roff caminhava lentamente olhando para tudo que possa vir a ajudar na busca dos culpados que mataram seus homens. Sanders mais atrás com o irmão Bill olhava para as copas das árvores, como se quisesse encontrar alguém em cima de algum galho. Assistia filmes demais, e sabia que nada era impossível se tratando de sair vivo de alguma situação.
          -Podemos parar um pouco, esses malditos sapatos estão me matando? –Reclama Bill apoiando o cano do rifle no solo negro e úmido.
          -Não! –Responde Sanders friamente, passando a mão no rosto tirando a água dos olhos da fina chuva que caia desde quando saíram do mercado no centro da cidade.
          -Acho que King achou alguma coisa senhores! –Diz Roff se abaixando passando a mão no cachorro logo depois retirando um trapo da boca do animal.
          Muitos chegaram perto para ver o que seria, e se depararam com apenas um tecido rasgado e sujo como se fosse de uma camisa xadrez de cor azul e cinza. Bill tomou o pedaço de pano da mão de Roff e olhando minuciosamente reparou uma mancha escura em uma das pontas mais estirada.
         -Saberia que era sangue mesmo se eu não tocasse o tecido. Vamos rapazes agora peguei gosto pela coisa, não devem estar muito longe daqui... –Diz Bill olhando para além das árvores acima da colina em direção à estreita trilha de pedras. –Um deles esta ferido, vamos, vou fazer com que todos se arrependam pelo tanto que andei! –Diz ele colocando o rifle nas costas e abandonando todos os outros para trás enquanto subia cuidadosamente a escadaria natural de pedras soltas.
          -Vamos rapazes, escutaram o que o garoto disse. Devem estar perto. –Roff ordena.

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           -Preciso parar um pouco amigos, minha perna parece que esta morta. –Reclama Ed.
           -Certo pessoal, vamos dar uma pausa. –Afirma Carlo.
            -Vou vigiar para ver se estão vindo cara. –Diz Trevys.
            Olivia e Elizabeth se sentam em um tronco oco caído em meio à pequena clareira. Carlo ajuda Ed a se sentar, e Mac observa a frente a decida íngreme que terão que passar.
            -Parece que estamos perto, acho que o que estou escutando é o barulho do rio mais adiante, ou então estou tendo alucinações. Venha conferir filho, não se parece com água corrente. –Mac fala para Carlo.
             Segundos depois prestando atenção no que o velho Mac havia dito, Carlo confirmou o que ele dizia, era mesmo o rio, e não estava tão longe dali. Uma olhada mais a frente, revelou a mesma decida que Mac também havia visto.
           -Me parece ser depois da decida, por trás das árvores não é Mac? –Pergunta ele buscando confirmação.
           -Reparei na mesma coisa filho, estamos perto da Passagem, falta pouco...falta muito pouco, e depois que chegarmos lá, qual é o seu plano? –Pergunta Tio Mac.
           -Bom...
            Mas um latido interrompeu Carlo, fazendo com que todos olhassem para trás com um aperto no coração.
            -São eles pessoal, são eles. –Diz Trevys quase sussurrando voltando para perto do grupo.
            -Vamos pessoal, temos que nos apressar! –Afirma Carlo seguindo em direção a Ed para ergue-lo novamente da pedra onde havia deixado.

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           Quase não se dava para ouvir os passos dos três caminhando pela noite, a região era composta por terreno fofo, de um chão tão negro feito à própria noite. Galergan seguia na frente logo seguido pela Cantora Anna Adlon e sua governanta Saly, que de minuto em minuto olhava para trás com medo de mais homens a estarem seguindo.
           -Quanto falta até essa central xerife? –Anna pergunta.
           -Pouco. –Responde ele.
            -Devemos nos apressar senhorita, e se tiverem nos seguindo...
             -Cale a boca Saly. –Interrompe Anna. –Já estamos muito longe.
             -Ei caladas, estou vendo alguém. –Avisa Galergan se abaixando por de trás de uma árvore olhando em direção a grande caixa d’água próximo a central onde trabalha.
              Os olhos só conseguiam enxergar um homem alto e forte de toca. Estava de costas fumando com dificuldade por causa da fina chuva que ainda atormentava a cidade.
              -Parece que é só ele. Temos que arrumar um jeito de desmaia-lo e pegar as chaves do meu Jeep. –Galergan diz as duas checando a pistola.
              -Já sei um jeito xerife, eu distraiu ele e você o acerta.
              -Não garota é muito perigoso, esses caras não estão pra brincadeira...
              -Deixa de ser bobo, vai dar certo, sempre dá.
              -Acho que você ta assistindo filmes demais garota, se ele te pegar, vai ser uma situação difícil de resolver, além do mais vai que ele chama mais alguém.
              -É verdade senhorita Anna. É melhor escutar o xerife, ele tem muita experiência nisso. –Concorda Saly.
             -Eu também tenho, preparados ou não ai vai Anna Adlon. –Diz a garota saindo rapidamente de trás da árvore seguindo em passos largos para a direção do homem.
       -Garota maluca...ela sempre foi assim senhora? –Pergunta Galergan preocupado.
            -Infelizmente, desde que nasceu meu senhor. Desde que nasceu.

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            O cão corria em direção a trilha acima, quando parou no topo e começou a latir, como se tivesse achado alguém. Bill tirou o rifle das costas e logo se apressou em colocar o olho na mira da arma para ver além do que o cão havia visto, mas não viu nada além do pequeno clarão e do barulho do disparo vindo de cima, seguido da cena do pobre animal sendo lançado uns dois metros para trás, descendo trilha abaixo com a cabeça destroçada deixando uma terrível mancha de sangue no caminho.
           -Filhos da puta! –Grita Roff, que se curva a frente do cão passando a mão no pelo das costas do animal.
           Sanders e Saemon se olham e se aproximam do homem ajoelhado diante do corpo sem vida do cachorro de pêlos cor de carvão. Saemon o toca no ombro e diz:
          -Vamos homem, vamos pegar o miserável que fez isso.Vocês quatro sigam por cima... vocês quatro sigam por ali, por trás da colina, o resto me siga vamos por esse lado, pegaremos quem quer que seja antes de atravessarem aquelas árvores. –Ordena Saemon apontando para as direções com o indicador, para que os homens sigam.

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           Mac agora desce a colina o mais rápido que pode, sabe que o resto do grupo já se distanciou um bom caminho, desde o disparo que deu no pobre cachorro. Mas a consciência estava até que tranquila, era um animal feroz, e era a única coisa a se fazer antes que o cão entregasse a posição de todos para os malditos homens mais atrás. Mas agora teria que ser rápido, pois deixara alguém com muita raiva depois do que havia feito. Mas sabia que seu corpo não era o mesmo de vinte anos atrás. Estava velho e suas pernas doíam, ainda mais com o frio. Tossia vez ou outra, o que é ruim, pois facilitaria a caçada dos homens. Então resolveu parar para respirar. Puxou o ar gélido da noite que parecia nunca terminar e então pensou. Encostou-se à primeira árvore grossa que viu e se preparou para mais alguns disparos, talvez os últimos da sua velha espingarda, e os últimos enquanto vivo. Nunca temia a morte, mas já sentia o frio na barriga e a garganta seca que não o deixava engolir qualquer saliva.
       O primeiro homem surgiu mais atrás passando por detrás de um pequeno arbusto. Mac mirou por alguns segundos e atirou, mas errou, fazendo o homem desaparecer por entre as árvores menores.
        -Esperem, estão nos esperando passar. –Grita o homem escondido, avisando aos demais caçadores.
        Tio Mac estava tomado pelo medo, mas estava pronto para mais um disparo caso alguém se atrevesse a passar pela trilha.
         -Olá para quem é que estiver ai, me chamo Saemon Pileg, e não busco problema nenhum. Pelo jeito que atira deve ser homem e com certeza já prestou serviços ao nosso país, só queria conversar se possível. Não tema nada, meus homens deixarão as armas e se afastarão, só quero conversar. –Grita Saemon mais distante atrás de Roff próximo a um tronco de Nogueira-pecã, ainda com folhas.
         Mac não fala nada e continua tentando respirar calmamente para manter o foco do disparo. Uma rápida olhada o revela apenas arbustos , rochas e árvores pequenas por onde passou a alguns metros, e era apenas o que via, estava escuro demais apesar dos olhos acostumados, e a lua estava tímida, ainda a se esconder por entre as nuvens acinzentadas e carregadas.
          De repente Mac escuta estalos de gravetos pelo seu lado esquerdo e rapidamente se abaixa, quase que se juntando ao tronco da árvore. Não estava vendo com precisão, mas não era ninguém do grupo, esse estava vestido praticamente todo de negro e usava casaco de frio, coisa que ninguém do grupo portava. Então apontou a velha espingarda e puxou o gatilho no momento em que fora descoberto. O tiro acerta em cheio no meio do peito do azarado caçador, que solta a arma levando as duas mãos ao peito, logo caindo de bruços no chão forrado por folhagens. Mac checa novamente a arma e se prepara para um próximo inimigo, mas logo é surpreendido pelo outro lado com uma arma na nuca.
         -Olá senhor, me chamo Sanders, espero que coopere dessa vez, ou devo deixar seu corpo aqui mesmo junto com o homem que acabou de matar?

Continua...   

                                                                                             

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